sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

31/12 - again & again & again em Frei

Mais uma vez sonhei muuuiittooo essa noite, que foi bastante conturbada. Recebemos a notícia de vinda do avião por volta das 22h30 e começamos a faina de transporte de bagagem por aqui as 23h. Na metade, recebemos um alerta de Mariano para darmos um tempo e aguardar. As condições do tempo estavam péssimas e provavelmente iríamos abortar a missão. E foi exatamente o que aconteceu. O avião simplesmente deu meia volta no meio do Drake porque as condições de visibilidade estavam péssimas.



Staff team sentado no sofá da recepção do navio, apenas aguardando.


Eu fui dormir logo em seguida, um sono meio leve e meio pesado, estranho no mínimo. Acho que os ânimos estavam um pouco exaltados. A manhã chegou com o despertar de Mariano as 7h00 e logo em seguida tivemos um briefing com absolutamente nada a declarar. Estavamos ainda em estado de alerta, aguardando notícias. A atividade da manhã foi uma palestra sobre caiaques ministrada por Ben, nosso "kiwi" man e logo em seguida nos colocamos em movimento para ir a base argentina de Jubany.



A entrada da casa principal de Jubany.


Fizemos um tour tranqüilo pela praia e pela estação, que estava bem mais bonita do que da última vez que estive lá, em 2001.Voltamos para o almoço e logo veio a tarde com algumas palestras. Eu preferi aproveitar o tempo para tirar uma soneca. Por volta das 5h veio a noticia que não iríamos voar nem hoje e dificilmente amanhã. Daí os ânimos de alguns se exaltaram: a coisa começou a ficar complicada e eu imagino como devem estar os passageiros em Punta Arenas. Acredito que muitos irão desistir. Mas só o tempo dirá. Fiquei trabalhando o resto da tarde, ajudando alguns passageiros a contatarem suas famílias e agentes de viagem, e logo antes da janta ainda consegui tempo para ligar para minha mãe e para a Mari....saudades de todos.


A janta veio, e logo em seguida fiz meu ritual de passagem de ano e hoje, 31 de dezembro, é exatamente o meio da viagem para mim. Por isso, tradicionalmente, limpei a cara fazendo a barba. É estranho mas ficou bom. Aproveitei e troquei a tala por uma menor, bem mais confortável.



Por isso, vem festa por ai: as 22hs com o "no news standby party" a bordo. Um feliz ano novo para todos.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

30/12 - mais um dia ....

Acordei pela manhã com a mão adormecida, pois estava em uma posição enrolada no meio das cobertas, ainda quentinhas. Curiosamente estava um pouco frio hoje. Eu tinha colocado o despertador para as 6hs, para ver se navegava um pouco na net. Decidi ficar na cama mais um pouco e no exato momento que me levantei, Mariano entrou no auto-falante com o "despertar matinal sem novidades". Isso significava que provavelmente não teriamos vôo pela manhã. A baía Fields (ou baia Maxwell, dependendo do mapa) estava calma e com pouco vento, visibilidade normal, e vista clara da pista, mas mesmo assim não tinhamos previsão de vôo. Os passageiros começaram lentamente a aparecer no café, e até que o ânimo estava muito bom. Afinal, estavam ganhando mais um dia na Antártica !







Nova armação metálica no dedo. Assim pelo menos fica mais firme !


Assim que terminamos o café, já tinhamos a notícia do cancelamento do vôo de manhã e a tarde também. Talvez só a noite ele iria ocorrer. Então, preventivamente, Mariano organizou uma palestra de Miguel sobre baleias e outros mamiferos marinhos, e me pediu para falar alguma coisa sobre a vida em uma estação científica (neste caso, Ferraz!). Tinhamos decidido ir para a Baia do Almirantado e, quem sabe, fazer uma visita à estação brasileira Com. Ferraz. A manhã foi de navegação e minha, de preparação, montando a palestra com filmes e fotos da temporada de 2007. As 11hs comecei a palestra, no mesmo momento que adentrávamos a baia do Almirantado. Que saudades desse lugar ! Um pouco antes do almoço já estávamos no raio de contato com a estação e chamei Ferraz no canal 16, que foi prontamente respondido por quem ?! Alberto Setzer (!) um velho amigo de temporadas antárticas e que estava na Meteoro - o módulo de Meteorologia da estação, 24 hs no ar. Conversamos rapidamente e ele me passou para o chefe da estação, que infelizmente disse que não poderia nos receber. Uma pena ! Depois de minha palestra estavam todos muito curiosos para conhecer uma das maiores estações antárticas da região. Seguimos no almoço e largamos âncora na enseada Mackellar, na frente da estação peruana de Machu Pichu, que estava vazia naquele verão. A idéia era fazer um cruzeiro de zodiac pela enseada por volta das 14 hs, o que prontamente aconteceu. Na saída um dos motores apresentou problema mas foi prontamente consertado por Vladimir.







Vladimir consertando o bote (cabo de partida quebrado !)


A única coisa diferente era meu dedo. Cortei o dedo de uma luva velha que eu tinha e encaixei uma segunda luva menor por cima da haste de metal que está me dando suporte para o meu dedo. Com isso eu estava pronto para fazer o que eu mais gosto: pilotar o zodiac. Combinamos de ficarmos em pares, e meu par foi Loli, conduzindo um dos zodiacs. Saimos pela enseada, pelo lado da peninsula Keller, minha velha conhecida das caminhadas de Ferraz, e encontramos uma foca leopardo descansando em um gelo azul perto de onde eu tinha "caçado" ninhos de gaviotas em 2007, ajudando no projeto da Erli e da Alice (veja http://diarioantartico2007.blogspot.com).









Zodiac Cruising na enseada Meckellar, baia do Almirantado.


A volta foi boa e o suficiente para nos divertirmos um pouco. A minha mão não incomodou nem um pouco. Voltamos ao barco e parti para um banho quente e profundo, afinal, eu queria tirar a tala de metal e trocar as ataduras. Serviço feito. levantamos âncora e rumamos para Frei novamente, que com sorte nos dará boas notícias.


-- atualização -- largamos âncora as 8h da noite (local) na frente da estação chilena, mas por hora a única coisa que sabemos é que há movimento em Punta Arenas, mas não sabemos se haverá vôo ou não. Estamos aguardando. Então...novamente.... FELIZ ANO NOVO.


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

24/12 à 29/12 - Clássica 03 (Natal Natal !)

24/12 - Preparativos de Natal em Frei

Como havia previsto, foi correria mesmo ! Desci com o segundo bote para a praia carregando passageiros e ainda voltei para o navio para mais um transporte. Eu gosto de dirigir os botes, mas não as 7h da manhã ! Bem - o trabalho tinha que ser feito. Depois da segunda leva, amarrei o bote na praia e subi com um grupo para a base do Instituto Antártico Chileno (Escudero) e me certifiquei que estavam todos bem acomodados. Feito isso, fiquei do lado de fora com o computador aberto (que eu tinha levado na mochila a prova d'água) tentando falar com a minha mãe via skype, mas a conexão estava muito muito ruim. Acho que durante o dia, com várias pessoas usando 3G na base chilena, sobram poucas linhas e a velocidade cai muito. Não durou muito para o avião passar sobre as nossas cabeças. Fechei tudo e subi com o grupo para a pista de pouso. É uma caminhada de apenas meia hora, mas com bastante ansiedade pois a maioria queria voltar para casa rápido.


Passageiros do grupo novo esperando pelo briefing de entrada na frente de Escudero.

Já na pista, vimos o novo grupo chegando e tratei de conter os passageiros que estavam retornando. Fizemos a troca de grupo na pista mesmo, em menos de dois minutos. Despedidas, abraços, beijos e adeuses, recepcionei o novo grupo e comecei a descer a trilha de volta a Escudero. Mais ou menos as 9h da manhã estava tudo terminado. Transportei dois grupos para o navio com o bote e pronto ! serviço feito. O plano era ficar por ali mesmo até de tarde, o que me daria um pouco de tempo para descansar. Infelizmente o plano foi por água abaixo.

Os passageiros deste novo grupo já estavam encaminhados, quando soou o chamado da ponte: baleia na área ! Colocamos rapidamente todos os botes na água e saímos com os 60 passageiros a caça de uma Jubarte que nadava tranquilamente nas águas da baia. Vento, um pouco de ondas e um frio danado, não foi muito divertido, mas pelo menos conseguimos ver alguma coisa (uma cauda aqui, uma nadadeira ali, etc). Voltei para o navio com o meu grupo meio que resmungando, pois estavam também cansados. Alguns tinham chegado de viagem em Punta Arenas ainda na madrugada, e estavam molhados e com frio em um bote no meio de uma baia gelada. Eu também tinha um novo companheiro de quarto, Adrian, um professor de história inglês que faria parte do grupo de guias a partir desta viagem.

No navio, as 12 hs pontualmente saiu o almoço e pudemos então dar um respiro. Fizemos nossas apresentações e logo a seguir tomei um banho rápido pois eu iria conduzir o treinamento do SOLAS (Safe Of Life At Seas), e desta vez teria que ser bilingue (arghh !). O treinamento durou mais ou menos uma hora e já estava de novo vestindo toda a roupa pesada pois iria desembarcar com um grupo em Ardley Island, o que aconteceu as 3h da tarde. Os pinguins por ali estavam crescendo bem rápido ! Dava para ver bem a diferença comparando com os dias anteriores.


Comemoração na ceia de Natal.

A faina toda na praia durou até mais ou menos 5h30 da tarde quando consegui subir a bordo e tomar outro banho, desta vez mais longo, e me arrumar para o coquetel de boas vindas e para a janta de natal. Coloquei uma camisa mais asseada e minha gravata de pinguin e tudo transcorreu muito bem. Falei com a Mariana antes da janta (saudades de casa !), telefonei também para minha mãe, abri o coquetel de boas vindas e fui para a ceia de natal, com direito a coral de natal e tudo mais. Mas o cansaço bateu forte. Haveria uma festinha dos membros da tripulação mas não consegui. Cai na cama morto de cansaço, aproveitando o balanço do barco que agora começava a jornada para atravessar o Bransfield durante a noite. E pelo nível do balanço, parece que o Bransfield não estava muito amigável. E assim eu fui dormir.

25/12 - Nevasca em Mikkelsen e Cierva Cove

Foi uma noite bastante conturbada. Eu dormi profundo por algumas horas mas acordava de tempos em tempos sendo jogado de um lado para outro. Até que mais ou menos as 2hs da manhã a porta do meu armário abriu e tudo que tinha dentro se espalhou pelo chão do quarto. Meu novo companheiro de quarto, Adrian, devia estar morto de tanto enjoo pois nem acordou. Recolhi tudo da melhor maneira possível e pulei na cama de novo. Não conseguia ficar de pé por causa do balanço. Pegamos um mar de lado que realmente assustou durante a noite. Mas eu sabia que o fim disso tinha hora marcada, e teve mesmo ! As 6h30 pousamos âncora em Mikkelsen Habour, onde minha última experiência tinha sido um pouco "molhada". O tempo não estava muito diferente, com uma forte neve, e um pouco de vento. Mas pelo menos já sabiamos qual era o porto seguro onde poderiamos parar os botes e fomos diretos para lá.


Foto para posteridade apenas. Tempinho péssimo !

O desembarque foi simples e rápido, e já fui para o trabalho de abrir um caminho no meio da neve macia até as pinguineiras. Só tirei uma única foto para posteridade ! Como é dia de Natal, todos usavam chapéu de Papai Noel.

Voltamos a bordo para um "Brunch" (que bom ! sopa quentinha e comida farta) e aproveitei o resto da manhã para colocar o trabalho em dia: programa, formulários, papéis e relatórios. Já pela tarde as 13 hs teríamos mais uma atividade: cruzeiro de Zodiac em Cierva Cove. Peguei meu grupo com 10 passageiros (5 franceses, 3 orientais e 2 americanos) e parti pela baia recheada de Icebergs. Nevava bastante forte e não deu para tirar muitas fotos, mas aproveitamos bem o tempo. Um dos franceses está fazendo um filme curto para a TV francesa, com 6 minutos, sobre mudanças climáticas, e acabei dando uma entrevista em pleno oceano com um iceberg de fundo.

Terminamos essa faina só as 16 horas, quando pude novamente tomar um banho quente para relaxar e mudar de roupa. Hoje foi dia de lavanderia, então tinha separado bastante coisa para lavar. Organizei tudo e ainda fui fazer minhas tarefas diárias. Desta vez tivemos muitas baleias pela volta do barco e até no meio da janta todo mundo levantava e saia correndo para a janela, para ver baleias bem perto do navio. No final da janta, Mariano chamou a todos no salão para distribuir presentes de natal do pessoal do escritório. Banhei um chaveiro-bússola e um canivete (Feliz Natal!).

Ainda tivemos a visita de um grupo de orcas bem perto do navio pela noite, mas estava cansado e só espiei um pouco pela janela do deck 5. Estamos navegando pela baia Wilhelmina em direção a Dorian Bay mas não vou ficar procurando baleias agora pelo caminho. Vou dormir porque ninguém é de ferro. Boa noite e bons sonhos.

26/12 - Dorian Bay, Lemaire (gelo gelo gelo !) e um problemão no dedo

Acordamos fundeados em Dorian Bay, com o Paratii e outro veleiro amarrados as pedras de Dorian ao fundo. Café da manhã rápido com as tarefas diárias distribuidas, zarpamos para Dorian com os 59 passageiros, visitando o refúgio inglês e andando pelas pinguineiras da área. Fiquei no cruzamento de uma pinguim railway e o nosso caminho para controlar o trânsito. Foi um desembarque longo e enquanto os passageiros ficavam observando os pinguins, eu ficava sonhando com o Paratii ali na baía Dorian. Quando passei pelo refúgio inglês, descobri no livro de visitas que era uma turma da PL Divers de Arraial que estava no Paratii. Que legal !


Dorian bay com o Paratii descansando junto a outro veleiro (acima e abaixo).


Terminamos o desembarque e partimos para o almoço e o Canal de Lemaire. Eu apostei com todos que não conseguiriamos passar. Dito e feito: maia uma vez o canal estava forrado de gelo impedindo a passagem do navio. Mais uma vez o plano B era entrar ao largo das ilhas Plenneau e fazer um cruzeiro de Zodiac por Port Charcot. Mas havia um problema desta vez, na verdade dois ! Gelo e vento. Rajadas de 30 nós (60 km/h) e muito muito gelo solto. Ainda assim fomos para a água - 6 Zodiacs. Parti com o meu para um bloco de gelo ali perto e fomos aos poucos explorando a área, entre blocos grandes e pequenos e muito gelo solto. O jeito era manter o "swing" do barco para não ficar preso. Em menos de meia hora ouvi o pedido de socorro de dois botes que ficaram presos no gelo. O navio estava indo resgatar. Continuamos nosso caminho, paramos umas 4 vezes entre focas e pinguins, e com isso chegamos a Port Charcot sem grandes problemas. O passeio duroui cerca de duas horas e quando voltamos fiquei surpreso com o caos. O navio estava solto a deriva do vento protegendo dois botes das rajadas e rebocando um terceiro. Só depois fiquei sabendo que fui o único que não ficou preso no gelo (yeeeaahhh ! Brazilian Icebreaker).


Passeio em Port Charcot e festinha de confraternização no Bar.

A janta foi um típico churrasco antártico, com todos congelando na coberta externa do deck 5, muito rápido pois o vento continuava forte. Assim que terrminamos, coloquei um filminho antártico para os passageiros e depois fomos relaxar no bar do navio - somente os guias. Grupo completo: Mariano e Loli, Vlad, Ben, Daniel, Miguel, Alex, Jorge e o "Doutor". Divertidíssimo ! Entre risadas e piadas, de repente minha mão estava presa na cadeira e simplesmente rolei com o movimento do navio e ouvimos um "claq!" e quando olhei minha mão vi meu dedo médio apontando para o lado errado ! Que droga ! Eu tinha acabado de tirar a falange (o osso do meio do dedo) completamente fora do lugar.


Na enfermaria logo após o ocorrido. Cara de dor, né ?!

Descemos para a enfermaria e no caminho puxei meu dedo de volta para o lugar mas não o suficiente. Aparentemente não quebrou mas deslocou por completo. Ele ainda apontava meio torto e só depois de um bom tempo começou a latejar. O doutor me deu dois analgésicos e imobilizou o dedo. Não tinha o que fazer a não ser ir dormir. Mas que porcaria ! O mais curioso é que não doeu (muito), ou pelo menos não estava doendo (muito !). Coitado do Miguel que ficou totalmente consternado com o acontecido. Mas afinal a culpa tinha sido minha também. Shit happens ! Dormi com a mão imobilizada por completo, em uma tala pequena, para ver o que aconteceria no dia seguinte.

27/12 - Zila ! Feliz Aniversário (Baía Paraiso e Neko Harbour)

Acordei por volta das 5hs da manhã achando que tinha sonhado tudo aquilo. Mas a dorzinha chata no dedo me lembrou rapidamente que não era sonho. Fiquei incomodado com a mão presa em bandagens, mas ainda tinha mais algumas horas de sono e não queria desperdiçar. O despertar de Mariano veio as 7hs e demorei um pouco para colocar a roupa já que a mão enfaixada não ajudava muito. Foi no mínimo engraçado ! parecia que metade do navio estava mais preocupado do que eu estava. Tomamos café e no briefing ficou combinado que fariamos um cruzeiro de zodiac em Skontorp (Baía Paraiso) até as 10hs. Sem problemas. Afinal, eu dirigia com a mão esquerda. Em todo o caso, Alex ficou como apoio no meu bote.


Pilotando em Skontorp (mesmo com a mão enfaixada).

As gelerias de Skontorp estavam bastante fraturadas, com vários pedaços de gelo flutuando na baía calma, espelhados na superfície tranquila do mar sem vento. No canto da baía estava fundeado um veleiro, o "Santa Maria Australis" (que delícia).

Embora eu fizesse todoo esforço coma mão esquerda, apenas os dedos da minha mão direita estavam imobilizados. Depois de um tempo, com o frio, comecei a me sentir desconfortável. Hum...teria que mudar de tática e melhorar a imobilização. Voltamos para o barco na hora programada e fui direto para a enfermaria. Coloquei uma tala e o doutor imobilizou com uma faixa. Ficou bom, mas visualmente feio. Paciência.

Meia hora mais tarde fundeamos na base chilena "Videla" ao fundo da Baía Paraíso. Tinhamos uma encomenda para entregar e os passageiros aproveitaram para fazer umas comprinhas no shopping da base. Eu fiquei cuidando do desembarque junto com outros e apenas conversando com os militares da base. Lá tem uma pinguineira enorme de Gentoos barulhentos. Só haviam ninhos com ovos e nenhum filhote. Estranho ! Será que as mudanças climáticas estavam fazebdo uma pressão a mais sobre a população de pinguins na península ?

Voltamos para o almoço e tive um tempinho de folga. Assim pude pensar um pouco nos afazeres domésticos (roupa e equipamento). As 15hs desembarcamos em Neko Harbour, um dos lugares favoritos meus aqui na peninsula. O sol decidiu aparecer mas o vento não deu trégua: 30 nós com rajadas de 45-50 nós. Desembarcamos rápido na praia para uma foto do grupo e depois Alex e Daniel levaram a maioria dos passageiros para o alto da montanha enquanto eu fiquei com um grupo que não queria subir perto da praia, observando focas dormindo na neve, pinguins, e a geleira bem ativa a frente de Neko.


Panorama de Neko Harbour.

Ficamos por ali até as 17hs quando levantamos acampamento debaijo de rajadas de 50 nós (100 km/h). Que sorte que o barco é bem confortável. Tomei um banho quente, fazendo malabarismos para manter as ataduras secas, e subi para o Panorama Lounge. Assim que o toque de jantar foi dado, consegui mais um tempinho para ligar para minha irmã, Zila, que fazia aniversário hoje. Como é bom ouvir a voz da família. Falei também com a minha mãe e a voz dela me tranquilizou um pouco. A noite para mim terminou tranquila...3 dose do anti-inflamatório e mais um analgésico. vamos ver se a noite vai ser sossegada.

28/12 - Deception e Half Moon Island (chegando o fim)

Por volta das 7h acordei com o movimento dos motores elétricos de popa (que estão localizados exatamente embaixo do meu quarto !). Isso significava que estavamos manobrando em espaço curto e provavelmente na entrada de Deception. Menos de dois minutos depois a voz de Mariano soou nos auto-falantes anunciando a nossa passagem pelos Foles de Netuno, a entrada da ilha Deception. Eu estava super bem e a noite tinha sido bastante tranquila em relação a minha mão. Estava com um pouco de dor mas dependia muito do movimento. A mão estava completamente imobilizada em uma haste de aluminio e bandagens, o que é extremamente desconfortável mas mantinha o dedo em uma posição segura. Subi para o café e briefing, com um desembarque tranquilo as 9h. Curiosamente Deception estava sob uma fina camada de neve. Um pouco depois do café descobri pelos emails do navio que uma forte tempestade tinha assolado as ilhas Shetlands alguns dias antes e mudado completamente a paisagem. Por isso o manto branco sobre a ilha e nenhum sinal de vapor na praia (mau sinal !) o que significava que o banho dos passageiros seria bastante gelado.

Descemos todos para a praia e seguimos em grupos de 20-25 pessoas pelos destroços da base inglesa e da antiga fábrica de processamento de óleo de baleia, reliquias de um tempo onde Deception era um caldeirão de carcaças de baleias apodrecendo na praia. Subimos para as janelas de Netuno. no circuito normal de visitas e em cerca de duas horas baixamos a praia para que os corajosos banhistas entrassem na água. Meu novo companheiro de quarto, Adrian, seria o primeiro - já que era um novato aqui (hahaha). Durante o passeio, nosso piloto principal de botes, Ben, juntamente com Jorge e o Doutor, faziam um treinamento de resgate com os botes. Para minha surpresa (ou nem tanto), vi quando o bote fez uma curva rápida e vi uma sombra voando para fora do bote. Era o Doutor, que literalmente foi arremessado dentro d'água. Na verdade tudo tinha sido planejado (ou melhor, arquitetado) para darmos um banho de batismo no doutor. Entre muitas risadas, o doutor foi resgatado e enviado a bordo para um banho quente.


Adrian no seu batismo antártico (banho gelado em Deception).

Alguns bravos passageiros lançaram-se na água gelada (sem água quente hoje ! por causa da maré), entre aplausos e vodka. Em meia hora todos estavam já devidamente secos e levantamos acampamento de Deception para ir a ilha Meia Lua, na ilha Livingston.

Eram duas horas e meia de navegação, o que me deram um certo tempo para tirar as ataduras, ver o estado da minha mão, e tomar um banho precioso, com direito a fazer a barba e tudo mais. A mão direita estava inchada e o dedo ainda torto, dolorido e desconfortável, mas ainda manejável. A água quente me relaxou o suficiente para tentar uma manobra arriscada: com muito cuidado fui mexendo no dedo até sentir exatamente onde estava o problema. en sentia perfeitamente o encaixe da falange média fora de centro, e por isso o dedo estava torto. A dor era pequena e mesmo puxando o dedo não sentia muito mais do que isso. Sob a água quente, consegui puxar um pouco e "claq!", vi estrelas !!! Estava sentado no chão do banheiro e falei muito palavrão até conseguir enxergar alguma coisa de novo. Curiosamente a dor estava presente mas a sensação de desconforto não mais. O dedo parecia um pouco mais reto e normal. Terminei o banho, coloquei uma atadura e estabilizei o dedo com a haste de metal, e fui procurar o doutor, que me xingou muito (haha!) mas realmente confirmou que eu tinha recolocado parte da falange no lugar. Ainda assim teriamos que confirmar se estava tudo bem por uma radiografia no dia seguinte em Frei.


Diferença entre os dedos bons e o dedo mal. Será que dá para notar ?!

Lá pelas 15hs descemos em Half Moon (Media Luna), uma pequena mas bela ilha ao sul de Livingston com uma enorme colônia de pinguins Chinstrap e um único pinguim Macarroni (que por sinal eu não consegui ver mas todo mundo viu!). Ficamos ali por cerca de duas horas e voltamos no fim da tarde para o navio, uma janta agradável e muitos agradecimentos. Afinal, esta era a última noite deste grupo e a janta foi de música, "thanks", e alguns chororôs. É impressionante como em pouco tempo os passageiros criam vínculos com a rotina a bordo e com a gente.


Panorama de Half Moon com a pinguineira barulhenta de Chinstraps.

Meu dedo está maravilhosamente bem. A mão continua inchada, mas está bem melhor do que antes. Vamos ver o que a visita ao hospital de Frei vai me trazer de dor de cabeça.
---- Atualização -----
29/12 - Boring day

O tempo ficou fechado o dia todo e não fizemos nada a não ser comer, dormir, assistir filme, e uma ou outra palestra a bordo. Tinhamos que aguardar as condições de vôo para a transferência de passageiros. A unica novidade do dia é que descemos até a base russa de Bellingshausen por volta das 11h para um passeio curto. Quer dizer, os passageiros desceram ! Eu fui com o doutor para o Hospital ver o que tinha acontecido com meu dedo.
Conversamos com o doutor Pastor, da base chilena, que rapidamente colocou no lugar o que ainda faltava da falange média, e tiramos uma radiografia. Resultado: havia uma fratura na falange e eu preciso continuar com o dedo imobilizado. Pelo menos troquei de tala e agora está bem mais confortável.
raio-x
Passamos o resto da tarde no navio apenas batendo papo e comendo lanchinho, e a noite tivemos Happy Feet mais uma vez. Falei com a minha mãe pelo skype e fui dormir cedo. Agora (30/12 - 8hs) estamos aguardando notícias de Punta Arenas, do vôo, e fazendo planos para entreter os passageiros. De resto está tudo bem, mas se não conseguir postar mais nada hoje, já adianto um Feliz Ano Novo para todos.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

20/12 à 24/12 - Classica Antarctica 02

20/12 - vôo atrasado & muvuca em Frei


Atraso de vôo é sempre um problema ! consegui me conectar na internet e transferir o blogo da viagem passada logo cedo (6h) e ainda por cima falei com minha mãe pelo skype. Porém os ânimos a bordo não estavam bons. Todos estavam ansiosos com o vôo pois um dia de atraso é suficiente para metade dos passageiros perderem suas respectivas conexões. Mas as notícias pela manhã eram boas: haveria uma janela pela tarde e provavelmente teriamos o vôo chegando as 15 horas. Com isso, ficou decidido que iriamos fazer um pequeno passeio em Ardley mais uma vez com estes passageiros, para esticar as pernas. A maré estava bem baixa e acabamos perdendo uma hélice que se partiu em uma pedra. Nada que não pudesse ser resolvido. Baixamos em dois grupos e logo de saída percebemos que os filhotes que tinhamos visto por ali apenas a 5 dias tinham dobrado de tamanho e quase empurravam seus pais para fora do ninho.



O sol começou a aparecer logo em seguida e trouxa mais ânimo para todos. Ainda vimos um filhote de elefante marinho dormindo na praia. havia uma marca (letras e números) na pelagem, indicando que aquele filhote estava sendo rastreado por algum cientísta interessado na ecologia de elefantes marinhos. Seguimos pela praia até o limite da área de visitas turisticas, e encontramos que sobrou da pinguineira de Adélies. Pouco mais de uma dúzia de ninhos se espremia com os ninhos de Gentoos que haviam tomado conta da ilha. Me lembro de ter desembarcado muitos anos atrás ali e havia uma boa quantidade de adélies, mas aos poucos eles foram sumindo. Voltamos para o navio as 11h30 para um breve almoço e então começou a loucura: transportamos todas as bagagens dos passageiros para a saída (Gangway), terminamos de gravar os pendrives que os passageiros ganham ao final de cada viagem, e ainda eu tinha que controlar parte do desembarque. Pilotei um dos barcos de transporte para a praia e logo tive que sair correndo caminho acima até a pista junto com Miguel, para auxiliar no desembarque de passageiros. É um caminho de mais ou menos 2 km, em subida constante, e de lama (nessa época do ano). Na ida para a praia vimos um hércules do Brasil descer na pista e quando estava subindo, cruzei com alguns brasileiros fazendo um tour pela antártica.



O Brasil, quando usa a pista de Frei para desembarque e embarque das comissões antárticas, ainda usa por mais um dia para treino dos pilotos. Como o avião está por ali mesmo, eles usam este vôo como VIP para a Antártica.


Miguel e eu subimos a ladeira e aguardamos um pouco, até que a pista foi liberada e nosso grupo de 47 passageiros chegando começou a se movimentar. Pascale, a francessa da Antarctica XXI que cuida dos passageiros em Punta Arenas, me passou o material de troca que temos nos vôos e assumimos a descida. A despedida dos passageiros que seguiam viagem indo embora da Antártica foi muito legal ! Vários fizeram questão de nos abraçar e dizer chorando que iam sentir saudades. São poucos dias apenas, mas o suficiente para fazermos fortes ligações com as pessoas. Tenho certeza que os "PAX" (como chamamos os passageiros) vão se lembrar por muito tempo os nossos nomes.



Safety Drill a bordo em um lindo final de tarde (com sol), o que permitiu ficar de camisa fora do barco.


Grupo novo na praia, instruções de embarque dadas, peguei meu bote e segui viagem com um grupo, a maioria Filipinos. Este grupo novo tem alguns americanos e outros europeus, mas a maioria são filipinos e outros asiáticos. É um grupo peque e a primeira vista me apreceu bem tranquilo. Combinamos de falar apenas em inglês e não temos maiores problemas de comunicação. Já a bordo e todos devidamente enviados as suas cabines, me preparei para o desafio do dia: eu ministrei a palestra de segurança a bordo. Tranquilo (!) Tivemos ainda um coquetel de boas vindas, e a janta. Me enfiei no escritório para adiantar o "paperwork" do dia, verifiquei os emails de trabalho (a bordo) e deixei prontas as listas de verificações do dia seguinte.


Cai na cama, sozinho ca cabine, já que agora Samuel foi embora com o grupo de passageiros da viagem anterior, e acabei dormindo um sono pesado. A travessia do estreito de Bransfield transcorreu tranquila e eu dormi como uma pedra.


21/12 - navegando através Foyn Harbour, Ohrne Cove e Cuverville


A manhã começou cinzenta, sem vento, mas ainda sim fria. A idéia era fazer um cruzeiro de Zodiac pela baia Foyn. Esse lugar fica entre as ilhas Nansen e Enterprise, e foi um porto estratégico para os baleeiros na época de caça pois é raso, protegido de ventos, e com vários atracadouros naturais. Ali está o naufrágio do navio "Governour", noruegues, que servia de navio fábrica lá pelos idos de 1910-20. Esse navio teve um incêndio a bordo e para nâo perder a valiosa carga de óleo de baleia azul, decidiram lançar o navio nas pedras. Conseguiram tirar alguma coisa do navio, mas nos porões ainda há alguns barris de óleo, estimados em US$ 6 milhões (!) em valores atuais. Mas hoje os restos do navio são ocupados por dezenas de sternas barulhentas que fazem seus ninhos por ali.



Passeamos de barco por toda a manhã, voltando para o navio as 11h30 para o almoço. O dia estava apenas começando e de tarde teriamos as 14h um desembarque continental, em Ohrne Cove.


Ohrne Cove é um lugar bem paradisíaco, embora não tenha muita vida animal, apenas uma pinguineira tímida de Chinstraps (pinguim de barbicha). A geleira do outro lado da baia estava bastante ativa e experimentamos pelo menos duas quedas de gelo com o famoso mini-tsunami na praia, mas sem vitimas, pois Ohrne é um desembarque em terra e com a quantidade de neve que tinha por ali, ficamos a pelo menos 20 metros do nível da água. Uma parte dos passageiros resolveu subir até a pinguineira que é bem alta. Eu fiquei na metade para tirar uma foto e logo desci a praia, para deixar o caminho limpo para a descida deles.


Tivemos ainda um desembarque em Cuverville, no fim da tarde. Já tinhamos estado ali a menos de dois dias, mas a mudança na paisagem era radical ! Vários ninhos de pinguins, montados erroneamente na neve, acabaram derretendo nos últimos dias e havia uma quantidade enorme de ovos inteiros espalhados pela área. Embora eu esteja sorrindo na foto com um ovo na mão, não é engraçado. Conversei longamente com Miguel, nosso especialista em pinguins, e ambos concluimos que embora este seja um efeito natural de casais mais novos e inexperientes, o impacto na área que vimos vai ser enorme. Em um "patch"de pinguins com pelo menos 200 casais, pelo menos 10% perderam os ovos. É um número considerável. Ainda assim, várias skuas sobrevoavam a área mas havia ainda muitos ovos inteiros pelo chão, sinal que o degelo tinha acontecido recentemente. Vamos ver como estarão as outras pinguineiras.



Voltamos a bordo rapidamente as 19h para um churrasco antártico. Dessa vez estava tão frio que preferi engolir a comida rapidamente e me esconder no calorzinho da minha cabine. E o dia terminou de forma grandiosa: um rendevouz em plena entrada do Canal de Neumeyer com o "Paratii". Fui até a ponte de comando para entregar o programa diário e fiquei de olho no horizonte por alguns minutos. Rapidamente vi um veleiro ao longe, casco vermelho, e me chamou a atenção o tamanho do mastro. Só precisei confirmar pelo binóculo se aquele era mesmo o "Paratii". Entramos pelo rádio mas não era o Amyr e sim, outras pessoas a bordo, provavelmente a caminho de Dorian Bay. Como estamos navegando para aquela direção, amanhã será certo de encontrarmos eles por ali.



Antes de dormir ainda lavei umas roupas (meias) pois estou usando de 4 ã 5 pares por dia e estava ficando sem meias. Organizei minhas coisas e deixei preparado o cartão postal de Doung Hang, um estudante chinês que me pediu um postal daqui. Amanhã estaremos em Port Lockroy, onde poderei enviar o cartão. Buenas noches !


22/12 - Port Lockroy e o Canal de Lemaire


Confesso que assim que terminei de escrever o post de ontem, o navio parou em Port Lockeroy. Por isso o sono foi tranquilo e silencioso, sem o barulho normal dos motores do navio. Acordei antes da chamada do Mariano pelos autofalantes do navio mas fiquei na cama. Troquei de roupa lentamente a tempo de subir para o café da manhã e briefing do dia antes da chegada de nossas digníssimas convidadas. A estação de Port Lockroy é tocada por 4 mulheres da United Kingdom Antarctic Heritage Trust que ficam de novembro a março na pequena ilha um pouco ao sul da baia Dorian. Todos tomamos um delicioso café da manhã e nos preparamos para um briefing de pré-desembarque com os passageiros. A ilha é extremamente pequena e está tomada de ninhos de pinguins, além das edificações da antiga base inglesa que agora é um museu. Por isso, todo o cuidado é pouco. Eu fiquei encarregado de ir a terra com os passaportes de todo mundo, para carimbá-los com o carimbo de Port Lockroy. Com isso, fiquei um pouco atrapalhado de início, mas mesmo assim consegui terminar a tempo e ainda fazer um pequeno "shopping" na lojinha do museu (acreditem, mas aceitam cartão de crédito !).



Esse ano havia muita neve e os pinguins estavam com bastante dificuldade de encontrar espaço no meio de tanto gelo. Impressionante ! A precipitação esse ano bateu realmente recordes. Pegamos dois passageiros, carpinteiros ingleses, para leva-los até a estação de Vernadsky, ao sul do canal de Lemaire. Por isso, logo depois do desembarque em Lockroy, voamos para o almoço rápido, de forma a estarmos prontos para a travessia do canal de Lemaire. Pelo menos iriamos tentar. O canal estava cheio de gelo, como da última vez, mas com habilidade, o capitão do barco conseguiu colocar o navio de forma segura na saída do canal.



Infelizmente, após essa etapa, o estreito até as ilhas Argentinas, onde se localiza a base de Vernadsky, estava completamente tomado de blocos grandes. Impossivel prosseguir. Por isso tivemos que mudar os planos: decidimos fazer um cruzeiro de zodiac pelas ilhas Plenneau, como da última vez, mas começando do final do canal de Lemaire.


Como eu gosto de dirigir um Zodiac aqui ! magnífico ! O dia estava com o céu aberto e sem vento, o mar cheio de gelo e grandes icebergs, e poucos passageiros, o que significava não ter que ficar apinhado no bote. Passeamos por ali por cerca de 2 horas, entre gelos, focas, icebergs e pinguins saltando pela água. Paramos novamente em cima de uma placa de gelo para uma foto do grupo, e seguimos até a entrada do canal de Lemaire, onde o navio recém tinha feito a viagem de volta para nos pegar. Andamos mais ou menos uns 30 km de bote nessa brincadeira, e fiquei realmente contente.



Com as atividades principais terminadas, zarpamos de volta para Port Lockeroy para deixarmos os carpinteiros que não conseguimos deixar em Verdnasky (parada rápida!) e seguimos adiante pelo canal de Neumeyer com destino a Ilha Trinity, que devemos chegar pela manhã. Na passagem por Dorian, ainda pude ver o mastro do Paratii acima do morro nevado. Eu deixei um pacote de chocolate para eles a cargo de um dos carpinteiros, pois imagino que eles irão se comunicar necessariamente pelo Natal. Tivemos uma recapitulação das atividades do dia, onde presenteamos Raid Courtney com um boné de membro da expedição. Raid tem apenas 8 anos e é a única criança embarcada nessa viagem. Por isso, como premio, ele dirigiu por alguns minutos um zodiac e foi eleito Gria Honorário da expedição. Como foi bom ver a cara de felicidade dele ! Me lembrei da Mariana (saudades!).


Ainda tivemos uma atividade interna dos guias - um briefing de segurança e um pouco de relax com vídeo e música. Enfim - um dia normal na Antártica. Fui dormir um pouco cansado, depois de organizar minhas coisas. Amanhã com certeza será outro dia.


23/12 - Trinity Island (Mikkelsen) e tempo muito ruim


Acordei com o barco batendo muito a caminho de nosso próximo porto - Mikkelsen. O tempo piorou durante a noite e rolamos bastante em um mar agitado. Logo no café, quando vi o vento subir a 35 nós, pensei que não fariamos nada além de ficar no navio. engano meu ! A decisão foi de desembarcar em Mikkelsen. O primeiro bote que saiu foi o nosso, para verificar as condições da praia: Miguel e eu na frente, usando um sapão a prova d'água, Daniel e Alex, e Mariano na direção. A praia de Mikkelsen estava completamente tomada de gelo, e na primeira tentativa de desembarque nosso, eu fiquei do lado do vento na praia e o zodiac acabou rolando para cima de mim. Resultado: um banho em água gelada ! mas sem maiores consequências, tanto que fiquei na praia mesmo assim recebendo os passageiros. Foi um passeio curto, não mais do que meia hora pois o tempo estava ruim mesmo. Alguns pinguins e focas estavam por ali se protegendo da neve e do frio.


Voltamos para o barco e consegui tomar um bom banho quente, antes de subir para mais uma palestra sobre mudanças climáticas. Tranquilo ! Logo depois veio o almoço, enquanto navegamos para Spert Island, mas.....o mar não estava com um humor muito bom e começou a bater muito. Tanto que o salão de jantar se esvaziou rapidamente. Eu fui para o meu quarto descansar também pois o banho gelado pela manhã tinha me deixado exausto. Dormi um pouco, já sabendo que não chegariamos a Spert Island. Por volta das 5 horas da tarde entramos em Deception, para fugir do tempo ruim e também para fazer um encontro em pleno mar com o barco "Akademik Ioffe". Tinhamos que carregar óleo e comida para os próximos dias. Por volta das 21h estava tudo pronto e zarpamos para Frei. A noite foi tranquila - certificados de participação para todos e também um concurso fotográfico. Acabei indo dormir cedo, por volta das 23hs e acordamos em Frei pontualmente as 5h30 da manhã de 24/12.



Gelo com cinzas vulcanicas em Deception Island e minha medição diária de salinidade.


Temos uma janela meteorológica agora pela manhã e adiantamos tudo. Será uma correria só ! não sei se conseguirei atualizar o blog agora. Se não conseguir - só dia 28/12 agora.


Beijos a todos.


[ Atualização - estamos mantendo posição em Frei até as 15hs. Depois disso iremos ir para a Peninsula. Feliz natal para todos !! ]


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

19/12 - Presos em Frei

Bem....contratempos acontecem ! O próprio nome diz: Plano de Vôo, ou seja, é apenas um plano. Um grande ciclone está passando pelo Drake e jogando ar com umidade sobre nós. Como a temperatura está por volta dos 4 graus, o resultado é um nevoeiro espesso que impede a aproximação de qualquer aeronave. Foi isso que aconteceu ontem o dia todo. A imagem de satélite abaixo mostra as ilhas Shetlands debaixo de um dos braços do ciclone. Mas há uma janelinha de céu limpo a sudoeste das ilhas e esperamos que isso melhore.



Quando estamos assim parados não tem muito o que fazer. A parte da manhã foi recheada com uma palestra sobre Geologia Antártica que ministrei no Panorama Lounge, e outra sobre Pinguins dada pelo Miguel na Biblioteca. Depois do almoço ainda fizemos uma sessão de cinema com o Filme Happy Feet. As 15 horas já tinhamos o "não" oficial do aeroporto sobre o vôo e decidimos fazer um tour na base russa de Bellingshausen. Um "Petit Programe" com direito a visita à igreja ortodoxa, à base russa, um tour pela base chilena e pronto !



Grupo na fila para carimbar passaportes na base russa de Bellingshausen, e eu próximo ao marco de distâncias da base chilena (que frio !!)


Ali na base chilena deu um tempinho para tirarmos uma foto do marco de distâncias: um poste com placas e distâncias das principais cidades do mundo. Brasilia estava lá, mas realmente ainda não estou com saudades de casa (hehe). Temos ainda um mes pela frente.



Ainda fizemos uma pequena parada no instituto antártico chileno, perto da praia, para café, biscoitos e banheiro, e eu aproveitei para tirar foto de um quadro explicativo que eles tem sobre a Ilha Rei George. Entre cerca de 35-55 milhões de anos atrás, a ilha era uma floresta, com vulcões, montanhas, árvores de 5 espécies diferentes, entre outras atrações, mais ou menos como o sul da patagônia hoje em dia. É interessante ver a quantidade de fósseis e impressões que encontramos por ali.



Reconstituição paleogeográfica da ilha Rei George.


Tivemos uma janta tranquila, com a visita dos comandantes das bases russa e chilena, e ainda o chefe do instituto antártico chileno. A noite foi de batepapo, fotos, e navegação na internet. O "Andre's Cybercafé" está bombando ! Sou o único com acesso a internet aqui e tem sempre uma fila de gente para conectar. Fui dormir por volta da meia-noite, em um sono bem pesado, e agora estou aqui (06h30 da manhã de 20/12) aguardando o café e as novidades.


Vamos ver o que o dia de hoje nos trará de novidade. Hasta la vista !


domingo, 19 de dezembro de 2010

de 14/12 à 19/12 - Antarctica Classica: revendo velhos amigos

14/12 - Dia da Mudança

Acordei mais cedo do que de costume por causa da ansiedade de falar com minha filha. Que coisa ótima falar com ela. A tecnologia é fantástica ! Mas o trabalho me chamava.

(1) Café da manhã em pleno briefing de desembarque, (2) desembarque de passageiros na base Eduardo Frei, (3) visita a igreja ortodoxa na base russa de Bellingshausen e (4) translado dos passageiros até o prédio do Instituto Antártico Chileno INACH (Ezcudero), além é claro, de receber os novos passageiros que chegavam. Vida dura ?! nem tanto. Até que foi bem tranquilo.


Vista da proa do Ocean Nova durante minha passagem em direção a terra.

Mariano me deixou coordenado a operação de terra enquanto ele se preocupava com o avião que iria chegar com o grupo novo mais o desembarque de bagagem do navio. Primeiro, me organizei com Daniel, Samuel e Miguel para os nossos visitantes irem até a igreja ortodoxa. Depois, descemos até a base russa para carimbar passaportes.



Vista da Igreja Ortodoxa e eu, em um breve sorriso na frente da base russa.

Bem, por volta das 12hs chegou o voo finalmente, e uma hora depois conseguimos fazer a troca de passageiros pelo caminho entre Ezcudero e a pista. Uma montanha de malas, 4 botes na praia e passageiros misturados (franceses, americanos, espanhóis e dois brasileiros !), tudo isso para subir a bordo. Nem deu muito tempo de pensar. Vupt ! todos a bordo para o almoço, menos nós, os guias, que ficamos de distribuir todas as malas pelas respectivas cabines. Caramba ! que sufoco.

Quando tudo isso terminou, tivemos tempo apenas de comer algo leve pois haveria um desembarque logo em seguida. Ainda consegui uns 30 minutos para atualizar o facebook, mandar um beijo para a familia e escrever recados para alguns amigos mais próximos. Logo as 17 horas descemos em Ardley Island, uma pequena ilhota cheia de pinguins praticamente colada a base Frei. nem precisamos movimentar o barco. Mariano deixou sob minha guarda o controle de praia, e consegui me organizar muito bem com os passageiros e guias. (Adoro essa parte !).



Vista panoramica de Ardley Island.

As pinguineiras estavam forradas de pinguins com filhotes. Bom sinal ! mas não vi nenhuma skua. Interessante. Ano passado haviam várias skuas e muita neve na praia. Este ano, aparentemente mais quente, as skuas sumiram e há pouca neve por aqui. Vamos ver o que vamos encontrar ao sul da península. Por volta das 18h30 estávamos já todos a bordo, se preparando para o Briefing com os passageiros, com as instruções de Mariano para a travessia do estreito de Bransfield.



Foi um coquetel de boas vindas simples, uma janta boa com comida quente, e uma noite de sono merecido. Fui para a cama antes das 22h30 porque meu corpo pedia um sono restaurador. Estrranhamente não tenho sonhado muito. Será que é cansaço físico ?!

15/12 - Mikkelsen Harbour & Cierva Cove

Acordei as 03:50 da manhã com o sol entrando forte pela janela (isso mesmo !) e me enfiei mais fundo ainda debaixo das cobertas tentando cobrir a cara. Não sei como Samuel conseguia dormir pois o sol caia exatamente em cima da cama dele. Consegui cochilar um pouco até as 7hs quando soou o "despertar" do Mariano pelo sistema de som do navio. Eu precisava dormir.....depois do dia anterior eu estava cansadíssimo. Levantei da cama rapidamente, troquei de roupa e fui para o salão de jantar (Dinner Room) pois todos os dias temos briefing 10 minutos antes de abrirem as portas para os passageiros. A idéia era parar em um pequeno ponto abaixo da ilha Trinity, chamado Mikkelsen Harbour. Na ilha tem um refúgio argentino abandonado e meio destruido, e alguma coisa como 3.000 pinguins.

Vista Panoramica de Mikkelsen Harbour, Ilha Trinity.



Mapa da Ilha Trinity com a posição de Mikkelsen.

Foi um desembarque difícil. Embora o tempo estivesse maravilhoso, havia muita neve fofa no meio da ilha. Caminhar era um martírio e tinhamos que abrir uma trilha no meio da neve para os passageiros passarem, e sem perturbar os pinguins no vai-e-vem da pinguineira. Fiquei enxarcado de suor de tanto tirar neve do meio do caminho. Samuel e eu marcamos a trilha enquanto que os outros guias iam mantendo a fila. Foram mais de duas horas de passeio entre pinguins e algumas focas na praia, e para terminar, uma passageira deixou cair um binóculo dentro d'água. Resultado: Ben, nosso piloto de bote, caiu na água com uma roupa seca para "salvar"o bendito binóculo. Pelo menos foi divertido.



Ben caindo na água e eu, feliz da vida, aproveitando o sol de Mikkelsen.

Subimos a bordo o almoço (delicioso, como sempre) e seguimos um pouco mais para o lado da Península, para o segundo programa do dia - um cruzeiro de bote (Zodiac) pela baia de Cierva Cove, ao lado de uma base argentina abandonada chamada "Primavera". É impressionante a quantidade de bases e refúgios argentinos completamente abandonados por aqui.



Pilotando o "Zodiac" e uma vista gelada de Cierva Cove.

O que eu mais gosto de fazer nessas viagens é exatamente isso: pilotar um bote. É com certeza a parte mais gostosa, onde me sinto mais livre por aqui. Passamos por vários icebergs, muito gelo picado boiando, algumas focas descansando e uma pinguineira gigantesca próximo da base, onde encontramos um grupo alegre de pinguins jovens nadando.



Pinguins nadando em Cierva Cove.

Desembarquei meus passageiros rapidamente na ilha e fiquei a deriva com o bote, esperando que o grupo tirasse fotos da base abandonada e arredores. Aproveitei para correr um pouco com o bote e ainda resgatar um pedaço pesado de gelo transparente para usarmos no bar a noite. O pedaço pesava uns 60 kilos e não foi fácil tirá-lo da água, mas afinal consegui. Voltei para a base e embarquei meus passageiros, com direito ainda a fotos por um iceberg azul que estava por ali.

O descanço a noite foi merecido: boa janta (filé de Merluza), um pouco de conversa e chocolate quente depois, no Panorama Lounge, enquanto o navio começava seu caminho para a entrada do Canal de Neumeyer. Infelizmente o tempo virou um pouco. Dá para ver pelas fotos que começou a ficar cinza no fim da tarde e agora cruzamos lentamente as águas do estreito de Gerlache até a entrada do canal de Neumeyer, com uma neve fina caindo, um nevoeiro leve, e um vento frio vindo de nordeste. Cruzamos com alguns barcos no caminho (Akademik Ioffe e Prince Albert I), mas sem muito papo furado no rádio. A meia noite todos já estavam em suas cabines, aguardando como seria o dia de amanhã.

16/12 - Dorian Bay & Port Charcot

Variações de humor são normais em qualquer situação de confinamento. Aqui não é diferente. Acordei meio de mau humor. O tempo estava fechado, gelado e ventoso (40 nós de vento ~ 80 km/h) e o café da manhã foi com um briefing meio pesado. Acho que era cansaço de todos. A previsão era de diminuição do vento por volta das 9h e foi exatamente o que aconteceu. Desembarcamos na praia de Amyr Klink (Dorian Bay) por volta das 9h30, eu e Daniel na frente para abrir caminho no meio da neve e verificar se tudo estava bem por ali. Dorian é o único lugar do planeta onde se pode ver uma base argentina e outra inglesa lado a lado (mesmo que desativadas !).



Refúgio inglês restaurado em Dorian, e eu com a "mardita" pá de cavar neve.

Ficamos por ali até as 11h30. Minha tarefa final foi fechar a fila, garantindo que nada tinha sido deixado para trás, e tapando os buracos que deixamos na neve com as nossas pegadas (suei a camisa mesmo !). Dorian é um lugar muito legal, mas sinceramente, ainda prefiro o outro lado da de Domey Point - Port Lockeroy. Mas infelizmente lá estava ocupado com outro navio. Vai ficar para outra vez. O almoço foi rápido pois as 13hs iriamos entrar no Canal de Lemaire - um canal estreito e muito bonito que marca a passagem para as Ilhas Argentinas, com Port Charcot de um lado e o arquipélago de Plennaeu.



Mapa da área com a posição de Dorian Bay e de Port Charcot.

O canal estava cheio de gelo mas mesmo assim decidimos tentar a passagem. Os passageiros se apinharam no deck superior para tirar as melhores fotos da tentativa de passar no meio de tanto gelo. Mas foi impossivel. Em um momento, não havia mais espaço para o navio e tivemos que recuar.



O plano original neste dia era desembarcar na Ilha Petermann, ao final do canal de Lemaire. Mas tivemos que mudar os planos e decidimos fazer um tour com os botes em Port Charcot, uma baia rasa cheia de icebergs, focas, pinguins e placas de gelo. Foi um passeio maravilhoso ! a coisa que eu mais gosto é pilotar um zodiac. Esses botes são fantasticamente flexiveis e rápidos. E o tempo estava tão fantástico que até fizemos uma pequena loucura: subimos em uma placa de gelo, com passageiros e tudo ! Essa placa tinha não mais que 30 cm de espessura e aguentava facilmente o peso do bote e de todos. Foto memorável !



Ficamos na água até as 18hs, quando então subimos rapidamente para o barco, para um curto debriefing e uma surpresa gastronômica: churrasco antártico (se bem que não dá para chamar a comida dos gringos de churrasco - hehe). Mas foi divertido. Comida, música e conversa no deck superior, aproveitando o clima agradável à zero graus de temperatura, e nada de vento.



A noite acabou para mim, cansado mas bem, no pôr do sol - que não dá para chamar bem de pôr de sol. Afinal, são 11 da noite e o sol ainda brilha no horizonte. Muito em breve não teremos mais noite de forma alguma.



Buenas Noches. Good night. Guten Nahct - Port Charcot.

17/12 - Paradise Bay & Cuverville Island

O dia no paraíso começou cedo. Senti que o barco começou a se movimentar por volta das 2h da manhã mas eu não sai da cama. Afiinal tinha que descansar. Logo de manhã cedo acordei com o chamado de Mariano para o briefing dos guias e como iriamos coordenar a saída matinal. As 9hs saímos com 6 botes na água na sequência combinada: 2 botes francêses, 2 botes de lingua inglesa (eu pilotando o No. 2), e mais dois botes de lingua espanhola. Passamos navegando pela baía paraíso (Paradise Bay) com os botes e rodeando o glacier de Skontorp - um lugar belíssimo. Embora eu ainda esteja meio de mau humor, pelo menos o passeio de bote foi tranquilo.


Pilotando o bote em Skontorp (com um chapéu para atrair focas leopardo!)


Panorama da Base Almirante Brown.

Logo na sequência fizemos um desembarque na base Almirante Brown (Argentina) que estava vazia, apesar da bandeira argentina meio rasgada que tremulava no mastro. Ali tiramos a foto do grupo e depois ainda fizemos uma breve caminhada pela estação. Na verdade foi tudo muito rápido pois eu tinha que voltar correndo para me preparar para uma palestra sobre Mudanças Climáticas as 11:45 hs no lounge panorâmico. Como sempre a palestra foi concorrida e muito discutida. O tema é controverso e sempre há discussão sobre pontos de vista diferentes.

Após o almoço, combinamos o desembarque em Cuverville e enquanto eu estava trabalhando um pouco no computador, ouvi Sebástian, nosso amigo argentino de Ushuaia, chamar no rádio. Ele estava a bordo de outro barco de turismo passando pelo canal afora. Naquele momento era impossível falar com ele, então combinamos de talvez amanhã, em Decpection, fazermos um contato por rádio.


Breve descanço na praia em Cuverville junto com os pinguins.

A tarde seguimos para o norte e fizemos um desembarque em Cuverville, uma ilha cheia de pinguins e skuas, com neve até o pescoço. O dia estava magnífico e as pessoas parece que queriam só ficar olhando os pinguíns. Então não tive muito trabalho e pude observar mais de perto algumas peculiaridades do local. No ano passado havia bastante neve também, mas um pouco mais densa do que agora. Este ano a neve está muito fofa, o que significa que foi depositada como uma forte nevasca (precipitação intensa). Aparentemente, as encostas da baia onde se encontra Cuverville estão com pouca neve. Será que é efeito de aquecimento do ar ? ou um verão mais cedo ? Tirei algumas medidas de salinidade ao redor da baia onde estávamos e tudo estava normal. A salinidade estava um pouco baixa mas nada anormal para esta época.

Por volta das 17h30 voltamos para o barco e logo no retorno, deu tempo apenas de tomar um banho e correr para a biblioteca, já que eu deveria ministrar a palestra da manhã, só que desta vez em espanhol. Um casal muito simpático foi minha única platéia e como prêmio, a janta foi atum grelhado. Logo em seguida fui trabalhar no escritório em cima do programa do dia seguinte, caindo na cama por volta das 23horas depois de arrumar meu quarto que estava uma bagunça só.

18/12 - Deception e Livingston

O dia começou cedo hoje - 5hs com um despertar forte de Mariano. Estávamos em deception e iriamos tentar logo cedo um desembarque em Baily`s head, um ponto magnífico com uma encosta super íngrime, de dificílimo acesso, e com mais de meio milhão de pinguins "Chinstrap". Mariano me pediu para vestir um sapão (Wader) a prova d'água de forma a ter alguém para controlar os botes na praia. Como o swell é muito forte, temos que lançar os botes na areia com velocidade, e alguém tem que entrar na água para segurá-los depois disso. Foi exatamente o que eu fiz. O único problema é que eu esqueci de colocar "liners" dentro do sapão - uma camada grossa protetora que aquece os pés. Resultado - fiquei completamente gelado, apesar de seco. Mas depois consegui me recuperar. A visita a Bailys foi um ponto alto da viagem pois a quantidade de pinguins realmente impressiona.


Praia em Baily Head forrada de pinguins Chinstrap (Barbicha).

Voltamos a bordo logo em seguida para um café da manhã bem quente, e desembarque as 9hs em Whalers Bay, dentro da ilha Deception. O tempo estava bastante encoberto mas mesmo assim conseguimos um bom desembarque, com muita gente interessada na história local. Whalers é uma praia meio triste pois ali morreram muitas e muitas baleias na época dos baleeiros antárticos. Além de visitar as ruinas locais, ainda subimos em um local mágico: "as janelas de Neptuno", bem na parede vulcânica da ilha. Um penhasco íngrime com algumas dezenas de metros de altura e cheio de pássaros. Fantástico. Na volta, alguns corajosos passageiros ainda entraram na água, que apesar da maré baixa e das fontes termais da ilha, ainda estava um pouco fria para o meu gosto.


Corajosos passageiros tomando banho nas águas geladas junto com os pinguins.

Voltamos para bordo a tempo de desfrutar um excelente almoço e seguir para Hannah Point - na ilha Livingston. O local é repleto de fósseis e uma infinidade de rochas dos mais variados tipos, além é claro, da população local de Elefantes Marinhos e petréis gigantes. Não foi uma caminhada fácil pois tinhamos que desviar de vários pontos de segurança (distância mínima dos animais), bem como não pisar nas mais variadas gramíneas que ali existem. Mas conseguimos. Na volta encontrei a praia repleta de krill. Sinal de que as coisas iam bem por ali pelo menos em termos de alimento para os pinguíns e baleias.


Elefante marinho descansando em Hannah Point e um krill perdido na praia.

Mas o dia não tinha terminado pois havia ainda a janta, o concurso fotográfico antártico, que fazemos ao final de cada viagem, e ainda toda a programação de amanhã. O problema é que havia a noticia de que talvez o vôo não saísse de Punta Arenas como planejado. Se isso ocorrer, vamos ter que fazer um plano B. Por isso mesmo, estou indo dormir - mais cansado que qualquer outra coisa.

19/12 - Parados em Frei

Acordei agora a pouco (5h30) com o navio em aproximação a baia Maxwell, onde fica a base chilena Eduardo Frei. O tempo está fechado e provavelmente não teremos vôo hoje. Como ainda é muito cedo, provavelmente o povo vai acordar só as 8h para o café e daí veremos o que vamos fazer. Vou manter todos informados. Agora é hora de colocar a comunicação em dia.