O dia "D"chegou e eu pulei da cama num salto. As 7h30 já estava no lobby do hotel com minhas coisas, computador na mão e uma taça de café na outra mão. Não demorou muito para Diana chegar, e logo depois Samuel e aos poucos fomos nos juntando com toda a tralha para ir embora ao cais. Meu chefinho Mariano Curiel já estava no navio desde cedo. Afinal - a esposa dele é a gerente do hotel do navio, então ele aproveitou que o barco chegou cedo no porto e praticamente acordou no píer (rsrs). Staff team saindo do Hotel em Ushuaia Por volta das 9h30 chegou o nosso transfer para o porto e em poucos minutos carregamos tudo, e assim que chegamos ao navio, começou a correria. Carga de comida e de bebida, em duas seqüencias diferentes: comida indo para a dispensa na proa, e a bebida ia para um deposito na parte de trás do navio. Fizemos uma "cadeia" para conseguir transportar os pacotes de água rapidamente - a uma distância de mais ou menos 5 metros um do outro, jogávamos os pacotes pesados de água um para o outro em seqüência. Com isso, conseguimos esvaziar rapidamente os pallets de bebida.
Trabalho duro, pesado e cansativo
Carga de material a bordo e o Ocean Nova no Pier de Ushuaia Mal terminamos isso, fomos para a sala de jantar do navio e engolimos alguma coisa pois já eram mais 13 horas e logo os passageiros estariam chegando. Não demorou muito para baixar um ônibus de russos e lituanos para embarcar. Eu fiquei a cargo de pegar o passaporte de todo mundo e garantir que preenchessem os papeis de entrada no Chile, como também, organizar o papel de saída, conferir os quartos, etc etc etc. Uma correria só ! tínhamos praticamente 60 passageiros chegando e muito papel sobre a minha mesa. Mas aos poucos, os guias foram se interagindo, íamos adaptando o trabalho e lá pelas 17hs conseguimos liberar todo o pacote de documentos e dar entrada no desembaraço do porto. Pelo menos ainda consegui tirar umas fotos no deck do barco, me despedindo de Ushuaia.
10/12 - Partida de Ushuaia - Lakutaia a noite
Saimos pontualmente as 17h30 de Ushuaia, com todos os passageiros a bordo e depois de muito trabalho. Eu controlei os passaportes e entradas das cabines, e mal deu tempo de organizar minhas próprias coisas. Tivemos ainda um treino de abandono e incêndio, mandatório para águas internacionais, e durante a saída consegui pelo menos bater uma foto da esteira do navio com o "Akademik Ioffe" e o "Polar Star" nos seguindo de perto. Esses também são navios de turismo mas iriam para outros lugares.
Paramos em Port Williams as 19h30, uma pequena aldeia construída ao redor de uma base militar chilena, onde iramos entregar as botas especiais para os turistas (sem elas é praticamente impossível desembarcar na Antártica), e carregar o navio com mais bebida. Enquanto isso, os passageiros iriam desfrutar de um coquetel em Lakutaia, um lodge nas vizinhanças de Port Williams onde se pode andar a cavalo, jogar golf e caminhar pelas montanhas. Eu trabalhei com Daniel o tempo todo, separando as botas e consegui também pelo menos uma foto, na recepção, enquanto mandava um post rápido para o facebook dizendo que eu estava partindo. Mal dava tempo para isso, mas consegui.
Voltamos rápido para o navio e partimos a meia noite pelo canal de Beagle. Nosso destino - chegar a Cabo de Hornos (Cape Horn) às 6h da manhã do dia seguinte. Fiquei trabalhando no escritório do navio até umas 2 h e cai na cama exausto.
11/12 - Cabo de Hornos e Drake
O café da manhã foi servido pontualmente as 7h, ainda em aproximação a Cabo de Hornos. Mariano fez um rápido briefing com todos, explicando o que iríamos fazer: desembarque, seguido de visita ao ponto mais austral (civilizado) do planeta, e voltaríamos antes das 10h30 para não pegarmos o vento que começava a entrar de sudoeste. Foram 4 corridas de bote para termos todos os turistas em terra. A subida até o farol e o monumento é feita por uma escada íngreme que alguns degraus faltando e não podemos sair muito do caminho, pois ainda há minas enterradas aqui, resquícios da guerra entre Chile e Argentina de anos atrás.
Monumento no fim do mundo. Sentirei saudades de Cape Horn
Lá em cima, o vento cortante dava sinais que o Drake estaria esperando pela gente com as garras afiadas. E foi o que aconteceu. O almoço foi um pouco conturbado mas mesmo com o balanço foi suficiente para encher o bucho. Tomei meu Dramin e comecei a trabalhar, até onde consegui. Um a um, os passageiros foram desaparecendo para suas cabines e os guias também. Jorge, o Barman, foi o primeiro a sumir. Depois Miguel, Samuel e Alex. Fiquei trabalhando com Daniel e Mariano até que pedi arrego e me deitei, me sentindo como uma roupa suja dentro de uma máquina de lavar. Perdi a janta, mas consegui pelo menos fazer algumas coisas importantes antes de deitar definitivamente.
12/12 - A máquina de lavar mais potente do mundo
Durante várias vezes a noite eu acordava com minha cabeça batendo contra a lateral da cama. Dava para perceber exatamente quando passávamos uma onda maior. Eu nem levantei da cama ! deixei o tempo correr até chegar uma hora decente. Meu companheiro de quarto, Samuel, ficou o tempo todo debaixo das cobertas, e só colocou a cara para fora algumas vezes, resmungando alguma coisa. Lá pelas 7hs eu levantei e fui dar uma espiada no Louge panorâmico do navio. As ondas jogavam spray até a cobertura do Lounge e lavava todas as janelas. Impossível ficar ali de pé. Praticamente todo mundo estava ainda dormindo e decidi deitar de novo para esperar um pouco.
Vista do Drake pela janela e Samuel trabalhando depois de conseguir ficar de pé.
As 8hs soou a chamada do café e consegui levantar. Tomei café com Mariano e o primeiro oficial do navio, com alguns pratos e copos voando pela sala de jantar. O mar estava meio chato de novo, mas mesmo assim tínhamos um bom quórum para o café. A programação pela manhã foi: uma palestra sobre geografia Antártica, dada pelo Daniel, e logo depois a minha, sobre meteorologia antártica, seguida pelo almoço.
Panorama da Sala de Jantar (Dinning room)
Foi bom e tranqüilo...e logo em seguida o mar parece que se acalmou um pouco e nos trouxe paz para o almoço, por sinal - delicioso ! Algumas ondas ainda davam dor de cabeça mas em princípio foi um almoço tranqüilo. Na parte da tarde, mais trabalho. Aproveitamos que tempo deu uma melhorada para tocar os papéis que tínhamos que preencher antes da chegada as Shetlands. Provavelmente desembarcaremos nas ilhas logo cedo pela manhã e ainda estamos nos aquecendo. Meu companheiro de quarto, Samuel, ou apenas "Sam", finalmente levantou e começou a comer algo. Bom sinal (foto acima).
O dia passou mais tranqüilo e pudemos fazer o nosso serviço diário, colocando programação em dia, construindo o logbook dos passageiros e outras coisas mais. O Jantar foi servido pontualmente as 19h, já sabendo que iríamos passar pelo canal entre as Ilhas Greenwich e Livingston por volta das 5h da manhã. Bem... hora de ir para a cama, não antes de dar uma olhada na ponte. E para minha surpresa estava nevando. Uma neve fina, um mar calmo, e um destino antártico pela frente. O que mais eu poderia querer ?!
13/12 - Primeiro desembarque
Acordei as 4h30 da manhã com o barco apanhando das ondas e do vento. Subi até a ponte de comando e a visibilidade não era mais do que 50 metros. Podíamos ver as ilhas que formam o canal apertado pelo radar, mas lá fora só víamos mar gelado e muita neve. O vento soprava a quase 40 nós (80 km/h) e fazia com que as ondas na proa subissem como uma ducha gelada no Panorama Lounge, nossa gaiola de vidro.
Deck congelado após um Drake complicado
Ainda assim, por volta das 5h30 estávamos praticamente lambendo as rochas do Canal de acesso a parte interna da baia formada pelas Ilhas Greenwich e Robert. Os poucos turistas que acordaram para ver o espetáculo urravam de alegria, mesmo com o vento forte e a neve caindo pesada sobre o navio. Afinal - eles estavam chegando à Antártica !
Embora o tempo estivesse muito ruim, Mariano decidiu que iríamos ancorar o mais próximo possível de Yankee Harbour, um pequeno esporão de pedras que forma uma baia fechada e protegida das ondas. Mas com o tempo dos infernos que estava lá fora, foi realmente uma loucura e uma baita sorte termos conseguido desembarcar. Apesar disso, Neptuno cobrou seu preço: todos chegavam molhados à praia. O vento continuava soprando a 40 nós (80km/h) com rajadas de até 60 nós (120 km/h). Mesmo se inclinando na direção do vento, ainda conseguíamos ficar de pé pois o vento nos empurrava para a posição vertical ! que força. Para os turistas, aquilo era o máximo. Antártica real e concreta.
Desembarque em Yankee Harbour
Ficamos por cerca de uma hora em praia, e voltei a bordo com o primeiro grupo para fazer o checkin dos que ficaram em terra. Pelo menos fiquei no calor confortável do barco. O vento diminuiu um pouco na hora do almoço (delicioso, por sinal!) e movemos nossa posição para Aitcho Islands, um pedaço de terra com uma população enorme de pingüins, ninhos de albatroz, elefantes marinhos, e várias outras aves. Com um tempo um pouco melhor e visibilidade total, todos nós disfrutamos maravilhosamente do local. Ficamos mais ou menos duas horas por ali, com direito a visita de amigos pinguins tentando bicar o meu pé.
Ninhos de pinguins Gentoos com o Ocean Nova ao fundo, em Aitcho.
O dia ainda não havia terminado. Havia uma comemoração especial a bordo. Um casal (já casado) decidiu casar de novo, com direito a Capitão na praia, uma capela na base chilena de Arturo Pratt e um belíssimo por de sol sobre o Glacier. A festa foi até tarde da noite, mas não aproveitei. Fiquei trabalhando até as 01h30, copiando arquivos e organizando o escritório do navio para o dia de hoje (14/12) quando iremos trocar de passageiros.
Casamento em Discovery Bay, Estação Arturo Pratt (Chile).
Com certeza foi uma travessia diferente de qualquer uma que eu já tinha passado. Em um mesmo dia tivemos ventos de 120 km/h, uma praia cheia de pinguins, um Drake molhado e misturado e um casamento na neve. Só podia terminar com o por de sol maravilhoso para ficar na memória.
Daniel, Miguel e eu nas fotos do por de sol maravilhoso em Discovery Bay.
Agora são 07h30 de 14/12 e o dia começa cheio. Não terei tempo de postar nada hoje mas estou feliz pois consegui falar com Mariana, minha mãe e até dar um au-au para Lili, tudo isso via um aparelhinho maravilhoso de internet via celular (aqui na base chilena de Frei, onde estamos, o celular pega normalmente). Dia 19/12 estarei novamente aqui e com mais novidades e fotos. Hasta la vista.
Parabéns "Marinheiro" pelas fotos... É um lugar lindo...
ResponderExcluirOi pinguim, to morrendo de inveja...que lugar maravilhoso!!!!!!! bj
ResponderExcluirdesculpa vc sabe que brigo com o computador, rsssss
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