sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

20/12 à 24/12 - Classica Antarctica 02

20/12 - vôo atrasado & muvuca em Frei


Atraso de vôo é sempre um problema ! consegui me conectar na internet e transferir o blogo da viagem passada logo cedo (6h) e ainda por cima falei com minha mãe pelo skype. Porém os ânimos a bordo não estavam bons. Todos estavam ansiosos com o vôo pois um dia de atraso é suficiente para metade dos passageiros perderem suas respectivas conexões. Mas as notícias pela manhã eram boas: haveria uma janela pela tarde e provavelmente teriamos o vôo chegando as 15 horas. Com isso, ficou decidido que iriamos fazer um pequeno passeio em Ardley mais uma vez com estes passageiros, para esticar as pernas. A maré estava bem baixa e acabamos perdendo uma hélice que se partiu em uma pedra. Nada que não pudesse ser resolvido. Baixamos em dois grupos e logo de saída percebemos que os filhotes que tinhamos visto por ali apenas a 5 dias tinham dobrado de tamanho e quase empurravam seus pais para fora do ninho.



O sol começou a aparecer logo em seguida e trouxa mais ânimo para todos. Ainda vimos um filhote de elefante marinho dormindo na praia. havia uma marca (letras e números) na pelagem, indicando que aquele filhote estava sendo rastreado por algum cientísta interessado na ecologia de elefantes marinhos. Seguimos pela praia até o limite da área de visitas turisticas, e encontramos que sobrou da pinguineira de Adélies. Pouco mais de uma dúzia de ninhos se espremia com os ninhos de Gentoos que haviam tomado conta da ilha. Me lembro de ter desembarcado muitos anos atrás ali e havia uma boa quantidade de adélies, mas aos poucos eles foram sumindo. Voltamos para o navio as 11h30 para um breve almoço e então começou a loucura: transportamos todas as bagagens dos passageiros para a saída (Gangway), terminamos de gravar os pendrives que os passageiros ganham ao final de cada viagem, e ainda eu tinha que controlar parte do desembarque. Pilotei um dos barcos de transporte para a praia e logo tive que sair correndo caminho acima até a pista junto com Miguel, para auxiliar no desembarque de passageiros. É um caminho de mais ou menos 2 km, em subida constante, e de lama (nessa época do ano). Na ida para a praia vimos um hércules do Brasil descer na pista e quando estava subindo, cruzei com alguns brasileiros fazendo um tour pela antártica.



O Brasil, quando usa a pista de Frei para desembarque e embarque das comissões antárticas, ainda usa por mais um dia para treino dos pilotos. Como o avião está por ali mesmo, eles usam este vôo como VIP para a Antártica.


Miguel e eu subimos a ladeira e aguardamos um pouco, até que a pista foi liberada e nosso grupo de 47 passageiros chegando começou a se movimentar. Pascale, a francessa da Antarctica XXI que cuida dos passageiros em Punta Arenas, me passou o material de troca que temos nos vôos e assumimos a descida. A despedida dos passageiros que seguiam viagem indo embora da Antártica foi muito legal ! Vários fizeram questão de nos abraçar e dizer chorando que iam sentir saudades. São poucos dias apenas, mas o suficiente para fazermos fortes ligações com as pessoas. Tenho certeza que os "PAX" (como chamamos os passageiros) vão se lembrar por muito tempo os nossos nomes.



Safety Drill a bordo em um lindo final de tarde (com sol), o que permitiu ficar de camisa fora do barco.


Grupo novo na praia, instruções de embarque dadas, peguei meu bote e segui viagem com um grupo, a maioria Filipinos. Este grupo novo tem alguns americanos e outros europeus, mas a maioria são filipinos e outros asiáticos. É um grupo peque e a primeira vista me apreceu bem tranquilo. Combinamos de falar apenas em inglês e não temos maiores problemas de comunicação. Já a bordo e todos devidamente enviados as suas cabines, me preparei para o desafio do dia: eu ministrei a palestra de segurança a bordo. Tranquilo (!) Tivemos ainda um coquetel de boas vindas, e a janta. Me enfiei no escritório para adiantar o "paperwork" do dia, verifiquei os emails de trabalho (a bordo) e deixei prontas as listas de verificações do dia seguinte.


Cai na cama, sozinho ca cabine, já que agora Samuel foi embora com o grupo de passageiros da viagem anterior, e acabei dormindo um sono pesado. A travessia do estreito de Bransfield transcorreu tranquila e eu dormi como uma pedra.


21/12 - navegando através Foyn Harbour, Ohrne Cove e Cuverville


A manhã começou cinzenta, sem vento, mas ainda sim fria. A idéia era fazer um cruzeiro de Zodiac pela baia Foyn. Esse lugar fica entre as ilhas Nansen e Enterprise, e foi um porto estratégico para os baleeiros na época de caça pois é raso, protegido de ventos, e com vários atracadouros naturais. Ali está o naufrágio do navio "Governour", noruegues, que servia de navio fábrica lá pelos idos de 1910-20. Esse navio teve um incêndio a bordo e para nâo perder a valiosa carga de óleo de baleia azul, decidiram lançar o navio nas pedras. Conseguiram tirar alguma coisa do navio, mas nos porões ainda há alguns barris de óleo, estimados em US$ 6 milhões (!) em valores atuais. Mas hoje os restos do navio são ocupados por dezenas de sternas barulhentas que fazem seus ninhos por ali.



Passeamos de barco por toda a manhã, voltando para o navio as 11h30 para o almoço. O dia estava apenas começando e de tarde teriamos as 14h um desembarque continental, em Ohrne Cove.


Ohrne Cove é um lugar bem paradisíaco, embora não tenha muita vida animal, apenas uma pinguineira tímida de Chinstraps (pinguim de barbicha). A geleira do outro lado da baia estava bastante ativa e experimentamos pelo menos duas quedas de gelo com o famoso mini-tsunami na praia, mas sem vitimas, pois Ohrne é um desembarque em terra e com a quantidade de neve que tinha por ali, ficamos a pelo menos 20 metros do nível da água. Uma parte dos passageiros resolveu subir até a pinguineira que é bem alta. Eu fiquei na metade para tirar uma foto e logo desci a praia, para deixar o caminho limpo para a descida deles.


Tivemos ainda um desembarque em Cuverville, no fim da tarde. Já tinhamos estado ali a menos de dois dias, mas a mudança na paisagem era radical ! Vários ninhos de pinguins, montados erroneamente na neve, acabaram derretendo nos últimos dias e havia uma quantidade enorme de ovos inteiros espalhados pela área. Embora eu esteja sorrindo na foto com um ovo na mão, não é engraçado. Conversei longamente com Miguel, nosso especialista em pinguins, e ambos concluimos que embora este seja um efeito natural de casais mais novos e inexperientes, o impacto na área que vimos vai ser enorme. Em um "patch"de pinguins com pelo menos 200 casais, pelo menos 10% perderam os ovos. É um número considerável. Ainda assim, várias skuas sobrevoavam a área mas havia ainda muitos ovos inteiros pelo chão, sinal que o degelo tinha acontecido recentemente. Vamos ver como estarão as outras pinguineiras.



Voltamos a bordo rapidamente as 19h para um churrasco antártico. Dessa vez estava tão frio que preferi engolir a comida rapidamente e me esconder no calorzinho da minha cabine. E o dia terminou de forma grandiosa: um rendevouz em plena entrada do Canal de Neumeyer com o "Paratii". Fui até a ponte de comando para entregar o programa diário e fiquei de olho no horizonte por alguns minutos. Rapidamente vi um veleiro ao longe, casco vermelho, e me chamou a atenção o tamanho do mastro. Só precisei confirmar pelo binóculo se aquele era mesmo o "Paratii". Entramos pelo rádio mas não era o Amyr e sim, outras pessoas a bordo, provavelmente a caminho de Dorian Bay. Como estamos navegando para aquela direção, amanhã será certo de encontrarmos eles por ali.



Antes de dormir ainda lavei umas roupas (meias) pois estou usando de 4 ã 5 pares por dia e estava ficando sem meias. Organizei minhas coisas e deixei preparado o cartão postal de Doung Hang, um estudante chinês que me pediu um postal daqui. Amanhã estaremos em Port Lockroy, onde poderei enviar o cartão. Buenas noches !


22/12 - Port Lockroy e o Canal de Lemaire


Confesso que assim que terminei de escrever o post de ontem, o navio parou em Port Lockeroy. Por isso o sono foi tranquilo e silencioso, sem o barulho normal dos motores do navio. Acordei antes da chamada do Mariano pelos autofalantes do navio mas fiquei na cama. Troquei de roupa lentamente a tempo de subir para o café da manhã e briefing do dia antes da chegada de nossas digníssimas convidadas. A estação de Port Lockroy é tocada por 4 mulheres da United Kingdom Antarctic Heritage Trust que ficam de novembro a março na pequena ilha um pouco ao sul da baia Dorian. Todos tomamos um delicioso café da manhã e nos preparamos para um briefing de pré-desembarque com os passageiros. A ilha é extremamente pequena e está tomada de ninhos de pinguins, além das edificações da antiga base inglesa que agora é um museu. Por isso, todo o cuidado é pouco. Eu fiquei encarregado de ir a terra com os passaportes de todo mundo, para carimbá-los com o carimbo de Port Lockroy. Com isso, fiquei um pouco atrapalhado de início, mas mesmo assim consegui terminar a tempo e ainda fazer um pequeno "shopping" na lojinha do museu (acreditem, mas aceitam cartão de crédito !).



Esse ano havia muita neve e os pinguins estavam com bastante dificuldade de encontrar espaço no meio de tanto gelo. Impressionante ! A precipitação esse ano bateu realmente recordes. Pegamos dois passageiros, carpinteiros ingleses, para leva-los até a estação de Vernadsky, ao sul do canal de Lemaire. Por isso, logo depois do desembarque em Lockroy, voamos para o almoço rápido, de forma a estarmos prontos para a travessia do canal de Lemaire. Pelo menos iriamos tentar. O canal estava cheio de gelo, como da última vez, mas com habilidade, o capitão do barco conseguiu colocar o navio de forma segura na saída do canal.



Infelizmente, após essa etapa, o estreito até as ilhas Argentinas, onde se localiza a base de Vernadsky, estava completamente tomado de blocos grandes. Impossivel prosseguir. Por isso tivemos que mudar os planos: decidimos fazer um cruzeiro de zodiac pelas ilhas Plenneau, como da última vez, mas começando do final do canal de Lemaire.


Como eu gosto de dirigir um Zodiac aqui ! magnífico ! O dia estava com o céu aberto e sem vento, o mar cheio de gelo e grandes icebergs, e poucos passageiros, o que significava não ter que ficar apinhado no bote. Passeamos por ali por cerca de 2 horas, entre gelos, focas, icebergs e pinguins saltando pela água. Paramos novamente em cima de uma placa de gelo para uma foto do grupo, e seguimos até a entrada do canal de Lemaire, onde o navio recém tinha feito a viagem de volta para nos pegar. Andamos mais ou menos uns 30 km de bote nessa brincadeira, e fiquei realmente contente.



Com as atividades principais terminadas, zarpamos de volta para Port Lockeroy para deixarmos os carpinteiros que não conseguimos deixar em Verdnasky (parada rápida!) e seguimos adiante pelo canal de Neumeyer com destino a Ilha Trinity, que devemos chegar pela manhã. Na passagem por Dorian, ainda pude ver o mastro do Paratii acima do morro nevado. Eu deixei um pacote de chocolate para eles a cargo de um dos carpinteiros, pois imagino que eles irão se comunicar necessariamente pelo Natal. Tivemos uma recapitulação das atividades do dia, onde presenteamos Raid Courtney com um boné de membro da expedição. Raid tem apenas 8 anos e é a única criança embarcada nessa viagem. Por isso, como premio, ele dirigiu por alguns minutos um zodiac e foi eleito Gria Honorário da expedição. Como foi bom ver a cara de felicidade dele ! Me lembrei da Mariana (saudades!).


Ainda tivemos uma atividade interna dos guias - um briefing de segurança e um pouco de relax com vídeo e música. Enfim - um dia normal na Antártica. Fui dormir um pouco cansado, depois de organizar minhas coisas. Amanhã com certeza será outro dia.


23/12 - Trinity Island (Mikkelsen) e tempo muito ruim


Acordei com o barco batendo muito a caminho de nosso próximo porto - Mikkelsen. O tempo piorou durante a noite e rolamos bastante em um mar agitado. Logo no café, quando vi o vento subir a 35 nós, pensei que não fariamos nada além de ficar no navio. engano meu ! A decisão foi de desembarcar em Mikkelsen. O primeiro bote que saiu foi o nosso, para verificar as condições da praia: Miguel e eu na frente, usando um sapão a prova d'água, Daniel e Alex, e Mariano na direção. A praia de Mikkelsen estava completamente tomada de gelo, e na primeira tentativa de desembarque nosso, eu fiquei do lado do vento na praia e o zodiac acabou rolando para cima de mim. Resultado: um banho em água gelada ! mas sem maiores consequências, tanto que fiquei na praia mesmo assim recebendo os passageiros. Foi um passeio curto, não mais do que meia hora pois o tempo estava ruim mesmo. Alguns pinguins e focas estavam por ali se protegendo da neve e do frio.


Voltamos para o barco e consegui tomar um bom banho quente, antes de subir para mais uma palestra sobre mudanças climáticas. Tranquilo ! Logo depois veio o almoço, enquanto navegamos para Spert Island, mas.....o mar não estava com um humor muito bom e começou a bater muito. Tanto que o salão de jantar se esvaziou rapidamente. Eu fui para o meu quarto descansar também pois o banho gelado pela manhã tinha me deixado exausto. Dormi um pouco, já sabendo que não chegariamos a Spert Island. Por volta das 5 horas da tarde entramos em Deception, para fugir do tempo ruim e também para fazer um encontro em pleno mar com o barco "Akademik Ioffe". Tinhamos que carregar óleo e comida para os próximos dias. Por volta das 21h estava tudo pronto e zarpamos para Frei. A noite foi tranquila - certificados de participação para todos e também um concurso fotográfico. Acabei indo dormir cedo, por volta das 23hs e acordamos em Frei pontualmente as 5h30 da manhã de 24/12.



Gelo com cinzas vulcanicas em Deception Island e minha medição diária de salinidade.


Temos uma janela meteorológica agora pela manhã e adiantamos tudo. Será uma correria só ! não sei se conseguirei atualizar o blog agora. Se não conseguir - só dia 28/12 agora.


Beijos a todos.


[ Atualização - estamos mantendo posição em Frei até as 15hs. Depois disso iremos ir para a Peninsula. Feliz natal para todos !! ]


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