19/01 - Punta Arenas e amigos
Foi difícil dormir em uma cama sem barulho e sem o movimento do barco. A Antarctica XXi tem um pequeno apartamento no centro, com 3 quartos, e fiquei por ali. Um silêncio duro que me tirou o sono por várias horas. Acordei as 5hs da manhã absolutamente sem sono mas me recusei a levantar por razões óbvias. Lá pelas 8hs saí da cama, espalhei minhas coisas pela cama e arrumei uma pequena mochila para um tour na zona franca de Punta Arenas, parada obrigatória para os últimos presentes de Natal que eu devia levar para o Brasil.
Peguei um táxi na avenida central e segui para a Zona Franca, ainda meio adormecida e praticamente deserta. Afinal, tinham sido 10 dias de greve geral na cidade e o povo ainda não estava acostumado com o movimento. Foi difícil encontrar um café aberto mas consegui comer uma torta e tomar um nescafé horroroso que os puntarenenses adoram (argh!). Tive que esperar no shopping da Zona Franca por umas horas ainda pois o comércio abre das 10h30-13h e das 15h-19h (como é que eles conseguem fazer comércio assim ?!?!). Bati perna por ali, comprei um belíssimo presente de Natal para a Mari (uma câmera rosa - assim salvo a minha das investidas dela haha) e mais alguns itens de desejo meu. Na volta arrisquei pegar um ônibus, que não é muito diferente de um táxi em termos de preço, mas viajei tranquilo e confortável até o centro de novo. Cheguei no escritório as 11h30 com fome mas ainda com coisas para fazer. Papelada, computador, entrega e organização das roupas, e ainda fui almoçar com Brigitte, nossa gerente de vendas, e bater um papo descontraído. A parte mais importante da viagem para eles é justamente o debriefing que fazemos e as sugestões para melhoria das operações no próximo ano.
Voltamos para o escritório, mais papelada, mais trabalho e entre as pausas atualizei meu facebook com algumas fotos indescritiveis que chamei de "Antarctic Insanity" - como operar em hardcore mode, com as fotos que Claudio tirou na praia com 80 km/h de vento, ondas e guias ensopados, na manobra arriscada de embarque do último grupo. Uma comédia ! Fiquei até ads 18 hs no escritório, quando encerrei oficialmente meu contrato e minhas atribuições na AXXI e fui bater perna na cidade para aproveitar o por de sol (que aqui dura até as 9 da noite no verão). Andei um pouco e decidi tomar um café em uma chocolateria da cidade. Entrei, peguei uma mesa e o cardápio, e quando olhei ao redor tomei um susto: Eduardo Secchi e Luciano, dois colegas de universidade, de mais de 20 anos atrás (!) sentados tomando café ao meu lado. Que mundinho pequeno. Eles estavam indo para a Antártica no vôo da FAB que abastece a estação brasileira Com. Ferraz. Um reencontro e tanto. Conversamos por mais de uma hora, trocando figurinhas, já que ambos trabalham com baleias e eu tinha algumas fotos e dados importantes delas. Essa foi realmente uma surpresa inesperada.
De protetor novo no dedo (apelidado carinhosamente de "Goldfinger") e o colorido de Punta Arenas no fim de uma típica tarde de verão.
Quando saímos da cafeteria, já era mais de 8h30 e o sol se punha timidamente atrás das montanhas a oeste de Punta Arenas, dando um brilho e cor todo especial aos telhados coloridos da cidade. Ainda passei em uma loja de produtos médicos para comprar um novo protetor para o dedo que estava incomodando um pouco. Fui para casa tomar um banho e relaxar pois ainda tinha a mala para reorganizar para a viagem de retorno. Mas não tive a chance. O telefone tocou e mais uma surpresa veio: Mariana (lindo nome, né ?), uma amiga muito querida também estava na cidade embarcando para a Antártica pelo PROANTAR e marcamos com todo o povo da expedição de ir em um restaurante beber e jogar conversa fora. Fomos ao "La Luña" tomar pisco e dar risadas. Muito legal reencontrar o povo, fofocar, matar a saudades. Mariana esteve comigo em 2007 na EACF (veja em http://diarioantartico2007.blogspot.com), e desde então não tinhamos nos visto. Muita sorte minha ter dois reencontros em um mesmo dia, no finzinho do mundo ! Adorei !
Mari e eu no La Luña. Reencontro surpresa que deixou mais saudades.
Fui dormir contente e mais relaxado (depois de um pisco, é claro !) para dar sequência a viagem de volta.
20/01 - Entre Check-in e Check-out
O despertador tocou pontualmente as 8hs e eu tinha praticamente tudo organizado. Precisei de 15 minutos para levantar, fechar a mochila e trocar de roupa. Brigitte acordou logo em seguida e ficamos aguardando Claudio com o caminhão para ir ao aeroporto. Cheguei ali as 9h30 com uma fila gigante no checkin da LAN, mas que em meia hora tinha se dissipado. Brigitte e Claudio foram transportando caixas e caixas do depósito da empresa no aeroporto enquanto eu mofava na fila, e quando tudo terminou eu já tinha feito meu check-in. Despedidas e mais despedidas, embarquei para Santiago na hora marcada, ouvingo Libertango no IPod e curtindo a viagem. O avião estava cheio e eu espremido entre duas poltronas, escrevendo encolhido com 4 dedos (e um quebrado ha ha), mas tranquilo em relação a viagem.
Santiago estava quente - 30 graus ! e mesmo dentro do aeroporto o bafo que vinha de fora intimidava a tirar todas as possíveis camadas de roupa. Eu ainda estou uniformizado de Antarctica XXI, pois são as únicas roupas limpas que eu ainda tinha. Fui para o Gatsby comer uma salada leve, tomar um café e tals, e papear um pouco na net. Não tem muito o que fazer a não ser esperar.
Bye Bye Neverland, bye bye Chile, e que venha 2011 que começa para mim agora !
--REPOSTAGEM--
21/01 00h - minha saga no aeroporto de Santiago foi quase que cinematográfica. A TAM/LAN mudou 4 (quatro!) vezes de portão de embarque, passageiros irritados, malas extraviadas, um caos total. Parece que o vôo foi cancelado e organizaram outro vôo mas não deram motivos nem explicações. Enfim - um vôo complicado. Cheguei em Guarulhos com atraso de 20 minutos e um calor úmido que eu não estava acostumado. O aeroporto só opera com uma companhia de taxi (Guarucoop) que tem preços abusivos mas não há uma segunda opção nesse horário. Resultado - peguei um táxi para Santos deixando dim-dim de pelo menos uma semana dura de trabalho, com um motorista péssimo, tossindo e espirrando, que dirigia mal a beça e não sabia o caminho para Santos. A descomplicação na alfândega (sem filas e sem perguntas) foi compensada pelas duas horas e meia de viagem SEM TRÂNSITO para Santos. O motorista só aumentou a velocidade do carro quando eu reclamei pela terceira vez.
Mas enfim - lar doce lar. Lili fez uma festa enorme, nem acreditando que eu estava em casa, e minha mãe me recebeu com uma saladinha caseira ótima. A Mari ainda está no Rio mas chega no sábado. E eu....bem...hoje o programa é cama (dormir), piscina (de tarde), e médico (para ver o dedo).
Ainda assim, fecho os olhos e me lembro de tudo nitidamente: Plenneau, Charcot, Paradise, Lockroy, Deception, gelo, focas, pinguins, e o gosto salgado e gelado da Antártica. Eu sei que Neverland continua lá, e sei que para lá eu vou voltar.
Acabou a moleza, agora vai trabalhar de verdade!...risos. De volta para casa.
ResponderExcluirQue delícia teu relato...desta vez acompanhei tudinho...que bom ver Mariana ( a do MMA) nesse reencontro...seja feliz, meu querido amigo. Beijos,saudades, Jana
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