08/01 - Parados em Frei
O dia começou tranquilo com um café da manhã tardio para os nossos padrões - 8hs da manhã. Não tinha muito o que fazermos. Havia uma programação de vôo para as 12 hs ainda sem confirmação e como tudo podia mudar rápido, Mariano decidiu que ficariamos por ali, com palestras e filmes, e pronto. Eu fiquei de arrumar a casa, o escritório, e organizar uma papelada de transferência de passageiros. A transferência ocorreu a uma hora da tarde. Engoli alguma coisa e corri para a "Gangway", a saída do barco, para pegar um bote para o transporte. Eu faria apenas uma lingada para terra com um grupo pequeno, e depois subiria a pista para receber os novos passageiros junto com Miguel e a turma da logística que cuida das bagagens. O avião chegou na hora marcada e de forma bastante simples começamos a descer com o grupo novo.
Avião com o grupo novo (e animado) chegando em Frei.
Cruzei no caminho com o grupo de nos deixava, e, obviamente rolou choradeira, abraços e beijos. Embora seja triste, também é um momento gratificante pois faço muitos amigos por aqui.
Subimos a bordo, separamos as bagagens, e voei para o banho pois eu tinha que dar a palestra de segurança a bordo logo em seguida. Fizemos o programa clássico, com o treino de abandono do barco, depois coquetel com o capitão, janta e filminho. O vento estava bem forte e bombou firme de proa. Metade dos passageiros desapareceu dentro das cabines, enjoados, e o doutor teve bastante trabalho. Sentei para jantar com ele e a esposa (que tinha vindo a bordo nesta viagem) e não teve sossego mesmo ! A cada 5 minutos vinha alguém pedir pílulas contra enjôo.
Não tinhamos muito mais o que fazer - iniciamos a navegação pelo Bransfield para estarmos cedo em Mikkelsen. nosso próximo destino.
09/01 - Mikkelsen (de novo !!) e Cierva
Não sei explicar porque mas não gosto de Mikkelsen. Acho um lugar desinteressante, mas está sempre dentro dos planos. Tomamos café as 07h30 já ancorados em Mikkelsen, e o odor de pinguins estava forte do lado de fora. Descemos na ilha as 9hs com a maré alta e cuidamos de fazer a trilha para o alto da ilha e depois para as pinguineiras mais abaixo. A maioria dos ninhos já estavam abandonados e vimos apenas poucos filhotes e muitos ninhos sem ovo algum. Este está sendo um verão muito duro para os pinguins daqui. Pela cor do guano, me parece que há menos krill do que o normal, e mais neve também. Com isso, há menos ovos e menos espaço também. Agora fiquei curioso para ver como será o próximo ano. Mas além disso, as skuas estavam bem nervosas. Afinal elas comem ovos de pinguim e filhotes, porque é mais fácil para elas. Como este ano há menos ninhos ativos, as skuas também estão ficando com fome.
Skua sobrevoando os ninhos e uma foto em close minha tomando um "bronze" em Mikkelsen
Ficamos na ilha até as 11h30, quando então subimos a bordo para o almoço. Ainda consegui "ter uma reunião com Amundsen" logo depois do almoço. (Deixa eu explicar: em código aqui, "ter uma reunião com Amundsen" é o mesmo que tirar uma soneca. Amundsen foi o primeiro explorador a alcançar o pólo sul em 1911, na corrida contra o inglês Scott, que acabou morrendo na volta do pólo. Esta é apenas uma curiosidade !). As 15hs peguei um bote junto com os outros guias e um grupo de passageiros em cada bote para um tour de Zodiac pela baía Cierva. O sol estava lindo e o tempo sem vento, e encontramos várias focas leopardo e caranguejeiras dormindo sobre blocos de gelo. Fantástico ! O dia acabou e entramos no programa noturno: janta e cinema antártico. Ainda fomos para o bar para uma confratenização entre os guias, civilizada, é claro ! e fui dormir pensando em Port Lockeroy, no nosso programa de amanhã.
10/01 - Port Lockroy, Lemaire, Peterman e Verdnasky (Ufa!)
Acordei umas 4h da manhã com o barco totalmente parado e motor desligado. Lockroy ? Sim ! provavelmente estavamos por ali, mas ainda era cedo e me enfiei mais fundo no cobertor e cochilei um pouco. As 7hs entrou o despertar de Mariano e logo a seguir um chamado no rádio. As meninas de Port Lockroy estavam vindo para tomar café e eu tinha liberado a minha cabine para um banho de uma delas. Me apressei (com Adrian) para arrumar um pouco a zona do quarto e fomos para o café. Elas chegaram e já se distribuiram pelas cabines que liberamos para uma ducha. No café fizemos o briefing de hoje: meio grupo de passageiros iria para Port Lockroy e o outro para Jugla Point, uma formação rochosa ao lado da ilha Wincke, onde se encontra Port Lockroy.
Port Lockroy em um dia ensolarado !
Na estação eu perguntei o paradeiro do Paratii e me informaram que eles tinham navegado para o sul, alguns dias atrás. Foi trabalhoso essa manhã: passageiros desgarrados entre os pinguins, carimbo em passaporte e transporte em Zodiacs. Na metade da manhã fui para Jugla Point onde fiquei cuidando de mais um grupo e as 11 hs embarcamos novamente para o sul. Toda velocidade - rumo Canal de Lemaire. O dia estava fantástico - sol forte e sem vento, até curti ficar de camiseta lá fora durante a travessia do canal de Lemaire.
Chegamos por volta das 14 hs na ilha Peterman para mais uma caminhada. Fiquei desta vez na parte norte da ilha, cuidando da área onde estão os ninhos de pinguins Adélie e Gentoos, bem como ninhos de Cormorão. Ainda encontrei um ninho perdido de um pinguim de barbicha, meio raro para essas bandas, e assim foi o passeio até as 17 horas, sob o sol forte e muita luz sobre a neve.
Voltamos para o barco mas nem tirei a roupa. Rumamos mais 30 minutos para o sul até as Ilhas Argentinas, onde desembarcamos em Verdnasky, a estação ucraniana. Ali estavam vários veleiros ancorados, e o mastro inconfundível do Paratii se sobressaia em Skua Creek, uma reentrância de pedras que os veleiros adoram usar como ponto de fundeio. Depois de deixar os passageiros confortavelmente instalados no bar de Verdnasky, e de entregar meu presente para o barman da estação (uma camiseta do Brasil), saí da estação e chamei o Paratii no canal 16. Quem me respondeu foi Igor, dizendo que estavam por ali com a turma da PL Divers e que iriam descer no dia seguinte para o sul, para Margheritte Bay. Foi bom falar com eles ! Não ficamos muito tempo por ali, pois teriamos o famoso churrasco antártico a bordo. E assim terminou a noite. Eu estava cansado, então logo depois do churras, tomei um banho e me enfiei na cama. Boa noite !
Pinguim com filhote em Peterman Island e o Paratii ao fundo de Skua Creek (O barco em primeiro plano é o Pelagic Australis).
11/01 - Paradise Bay e Danco Island
Acordamos no paraíso ! Eram 7h00 quando subi para o café da manhã em meio a icebergs com um céu azul magnífico de fundo. O dia estava maravilhosamente claro. Planos em prática, colocamos os zodiacs na água e fomos para um cruzeiro curto dentro da baía. Pelo visto a noite tinha sido fria pois uma fina camada de gelo cobria as águas paradas da baía, com vários blocos de gelo flutuando por todos os lados. Fizemos o programa clássico, com parada obrigatória nos ninhos de cormorão, sternas e petréis do cabo, e cruzei rápido a baia para o ponto onde haviamos visto o despencar do edifício de gelo na semana passada. O bloco maior estava por ali ainda e provavelmente, pelo tamanho, iria ficar muito tempo na baia antes de começar a se fragmentar em peças menores. Juntamos os botes as 10h15 para um chocolate quente e foto do grupo, e depois seguimos para a base argentina Almirante Brown, para o escorrega clássico na neve.
Grupo de passageiros nos botes tomando um chocolate quente em Skontorp.
Pontualmente as 12h subi a bordo com um grupo de passageiros e tomei um banho rápido antes do almoço. A tarde prometia com uma mudança de planos. Ao invés de irmos para Neko Harbour, Mariano decidiu mudar o rumo e fomos para Danco Island, próximos de Cuverville. Lá existe uma subida enorme e íngrime na neve, para colocar os pulmões para fora, e termina em um platô largo de neve milenar com uma pequena colônia de pinguins e um marco geodésico do departamento de hidrografia da marinha britânica. Ali o vento já estava um pouco mais forte e bem gelado, prometendo que a travessia do Bransfield dessa noite seria com algumas ondas.
A grandiosidade de Danco com o canal Herrera ao fundo.
As 18hs levantamos âncora de Danco e seguimos pelo canal Herrera até a entrada de Gerlache. dali o rumo é sempre norte, até Deception, que iremos visitar amanhã. Eu estava bem cansado e não tive muitas opções a não ser comer e dormir. O dedo só incomoda quando esqueço dele por completo e tento fazer alguma coisa estúpida como levantar um bloco de gelo da água ou puxar o bote. O doutor ainda acha que sou maluco e deveria ser internado (hehe), mas estou usando a contenção de alumínio para proteger o dedo e tenho tomado "um pouco"de cuidado. Bem, não há muito o que fazer. Bons sonhos nas águas do Bransfield.
12/01 - Deception e Yankee, tudo em um liquidificador.
Deception é sempre uma supresa. Foram 3 dias de sol, calor e ausência de vento, e obviamente isso não iria durar para sempre. Acordamos em Deception com 35 nós de vento (70 km/h) com rajadas de até 80. O tempo incoberto e o vento norte anunciavam um mega ciclone acima das nossas cabeças ali pelo Drake. Dentro da ilha, o navio brasileiro "Almirante Maximiliano" também se escondia do mau tempo. Ainda assim, Mariano decidiu colocar os botes na água e ver no que dava. O vento mau deixava a gente se movimentar e por questões de segurança fizemos um desembarque mais curto. Fiquei com o segundo grupo perto dos tanques abandonados da ilha e conseguimos nos aproximar um pouco da casinha abandonada inglesa que tem por ali. A toda hora tinhamos que tirar areia dos olhos, pois o vento não dava trégua. Ainda assim, um pouco antes de voltar ao barco, um casal de corajosos canadenses pulou na água para o banho antártico. Foram os únicos !
Casa inglesa abandonada em Deception. Com o vento, pedaços sempre voam dali.
Ao sairmos de Deception o vento mandava ondas de 5 metros pelo costado, o que fez o barco balançar muito e nocauteou metade dos passageiros. O almoço foi tranquilo mas vazio. Comi rápido e fui separar o filme da tarde. A previsão de chegada ao nosso próximo destino era 5 horas da tarde, Yankee Harbour, na ilha Greenwich. O vento fazia com que o barco andasse devagar e por isso a travessia seria mais longa que de costume. Melhor para mim: separei o filme e cai na cama para dormir. Estava cansado demais para ficar acordado. Foi ótimo ! consegui dormir a tarde toda. As 5hs em ponto chegamos a Yankee e descemos 4 botes com alguns passageiros. Outros ainda se recuperavam do mar pesado do dia. Yankee é um esporão de rochas com uma pinguineira grande de papuas (uns 6 mil pinguins). Havia pelo menos uma centena de skuas famintas pela volta tentando conseguir alguma comida, e os filhotes de pinguins corriam de um lado para outro, já meio grandinhos para ficar nos ninhos. Ficamos ali até umas 18h30 e depois subimos a bordo para a janta de despedida.
Pinguineira de Yankee Harbour em um típido dia antártico (neve, vento e frio!).
Este grupo vai embora dia 13. Por isso, era hora de finalizar a viagem com a festinha de despedida. Jantar, concurso fotográfico no Lounge e um batepapo descontraido no bar. Isso até o navio começar a se mover para Frei e o mar pesado chacoalhar tudo. Metade foi para a cama e eu ainda consegui arrumar o escritório antes de cair de sono.
13/01 - atualização: chegamos a Frei de madrugada e o vento não deu trégua. Estamos ancorados na baía em frente a Frei, com os motores ligados, pois o vento empurra o navio para terra. Tem um yatch de luxo aqui ao lado na mesma situação. Ainda é cedo, 6h00, e acordei para atualizar o blog e conversar com minha mãe. A previsão é de que teremos vôo no final da manhã, mas não estou acreditando muito nisso. O tempo não está fácil !
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